O Núcleo da Defensoria Pública de Barra do Garças solicitou alvará de doação de órgãos à Justiça, após a professora Pâmela da Silva expressar o desejo de doar um de seus rins para a parente, Laura Cristina Corrêa, que há quase três anos faz hemodiálise, sem melhora.
A Defensoria Pública de Mato Grosso conseguiu, na Justiça, decisão para que a professora Pâmela da Silva, 32 anos, faça a doação voluntária de um de seus rins para a parente distante, a aposentada Laura Cristina Corrêa, 45 anos. Laura é diagnosticada com insuficiência renal crônica degenerativa e, há dois anos e meio, faz hemodiálise três vezes por semana. Desde então, se mantém viva com o funcionamento de apenas 14% de cada rim, o que fez os médicos prescreverem o transplante.
A ação, com o pedido de Alvará Judicial para Transplante de Órgãos, foi feita em outubro deste ano, pela equipe do Defensor Público da 3ª Defensoria Pública de Barra do Garças, Edemar Belém.
O pedido tem fundamento no artigo 9º da Lei 9.434/1997, que expressa: "É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea".
A equipe do Defensor afirma que essa é a primeira ação, dessa natureza, feita no local e que o resultado emocionou a todos.
"Essa é uma ação inédita feita em nossa Defensoria e estamos muito felizes que tenha dado tudo certo. A cirurgia estava marcada para o dia 26 de outubro, mas, como a médica que fará o procedimento acreditou que a decisão poderia demorar, ela reagendou para o dia 06 de novembro. Para nós, trabalharmos nesse caso foi muito gratificante, pois atendemos casos de família diariamente que demandam conflitos, e ver uma atitude como essa, de alguém querendo salvar a vida de outra pessoa, com um gesto desses, foi muito comovente e tocante", afirmam Belém e a assessora jurídica Jaqueline Brito.
A assessora avalia ainda que, muitas pessoas desconhecem essa possibilidade de doação e tem esperança que, com a divulgação do caso, a população se sensibilize e possa procurar orientação, como meio de salvar vidas.
*Doação* - Para a professora Pâmela, a decisão de doar um órgão não foi fácil, porém, ela afirma que o sofrimento de Laura e a possibilidade de socorrê-la pesou mais. "Ela tem três filhos, um deles é especial, tem síndrome de Down, autismo, esquizofrenia e depende totalmente dela. Há dez anos, ela, eu e minha mãe nos aproximamos, depois da morte da mãe dela, pela mesma doença. Desde então, passamos a acompanhar o problema e conversando, um dia, depois dela testar compatibilidade com várias pessoas, me ofereci", explica.
Pâmela lembra que, na conversa, sua parente estava muito triste por já não estar suportando fisicamente tantas sessões de hemodiálise, isso, associado ao fato de não encontrar doador compatível. "Ela morava em Rondonópolis e o marido dela fez teste de compatibilidade em Campo Largo, porque em Mato Grosso não temos fila para transplante de rim, e eu sugeri que ela fizesse em Goiânia. Oferecemos nossa casa para ela ficar e ela aceitou. Deu certo, sou compatível, estou saudável e cumpri os requisitos legais para a doação, só faltava isso para a cirurgia acontecer e agora, ela aguarda o dia com muita ansiedade", informa.
A cirurgia será feita no Hospital Geral de Goiânia, instituição reconhecida na prática de transplantes renais. O alvará de doação foi autorizado, após manifestação favorável do Ministério Público Estadual, pelo juiz da 1ª Vara Cível de Barra do Garças, Michell da Silva, no dia 19 de outubro.
"Quando ela começou o tratamento de hemodiálise foi um baque para todos nós. Desde então, acompanhamos todo o sofrimento dela e o nosso único receio, nesta fase, era do juiz negar a autorização, pois não suportamos mais vê-la sofrer. Agora, que tem a decisão judicial favorável, estamos todos esperançosos e ansiosos pela cirurgia", disse Pâmela.
Ela conclui afirmando que espera que as famílias se conscientizem dessa possibilidade. "A minha mãe apoia minha decisão, mas tem outras pessoas da família que não concordam. Eu vejo minha decisão como uma injeção de ânimo, de vida, a possibilidade dela viver mais um pouco para cuidar do filho especial, a quem só ela consegue acalmar em surtos. Se posso prolongar um pouco mais a vida dela, porque não?".
Assessoria DPMT