Um relatório publicado recentemente pela Rede de Estudos Trabalho e Identidade dos Jornalistas (RETIJ/SBPJor) aponta que, acompanhando o cenário nacional, jornalistas da região Centro-Oeste estão vivendo nos últimos anos um processo acelerado de adoecimento mental. Intitulado "Perfil do Jornalista do Centro-Oeste 2023" , o documento traz ainda dados relevantes sobre a categoria na região.
Foram ouvidos mais de 500 profissionais, das quatro unidades federativas da região, que ajudaram a traçar o perfil apresentado na publicação. O trabalho de descrição dos dados dos jornalistas foi produzido de forma remota, por jornalistas, pesquisadores e docentes de diversos estados.
Como conta a professora Fernanda Vasques Ferreira, da Universidade de Brasília (UnB), os relatos de estresse, apatia e adoecimento mental geral foram bastante recorrentes. "Uma questão que nos saltou os olhos que é a precarização como um fenômeno extremamente presente, complexo e multifacetado que em certa medida inclui as mutações profissionais que aconteceram com o advento da internet e do jornalismo digital, as reconfigurações desse ecossistema midiático pensando em uma perspectiva global. O que percebemos é uma insatisfação e apatia profissional", disse em entrevista ao PNB Online.
Conforme explica a professora, muitos deles relataram quadros de stress, dores corporais, falta de apetite e sono. O quadro acontece de maneira conjunta ao fenômeno da redução dos postos de trabalho formal, aumento da jornada de trabalho, aumento das exigências para as vagas de emprego e contratos precários. Há, além disso, muitas vezes a mistura entre trabalho e lazer.
Houve, entretanto, a constatação de que, apesar dos problemas enfrentados, a condição de trabalho é melhor na região Centro-Oeste em comparação com o cenário nacional. Especificamente, os jornalistas na região desfrutam de vínculos mais estáveis, incluindo empregos celetistas e cargos públicos, além de salários mais atrativos e benefícios superiores.
Conforme destaca Ferreira, as descobertas do relatório apontam para a necessidade de pesquisa, análise e reflexão não apenas no âmbito acadêmico, mas também por parte das instituições e sindicatos que representam os jornalistas, bem como no contexto organizacional das empresas de comunicação.
"No Centro-Oeste há uma contradição clara. O estudo aponta para uma categoria profissional em processo de adoecimento mental, mas com remuneração melhor que em outras regiões, levantando questões sobre o grau de percepção dos jornalistas em relação às condições em que estão inseridos. A apatia e o desânimo observados podem estar contribuindo para uma letargia na busca de melhores condições de trabalho", afirma.
Confira o estudo completo neste link.
PBN Online