Nos últimos anos, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem sido objeto de crescente atenção devido ao aumento significativo de diagnósticos.
Nos últimos anos, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem sido objeto de crescente atenção devido ao aumento significativo de diagnósticos. Para compreender melhor esse fenômeno e fornecer esclarecimentos importantes, a Gazeta Brasil entrevistou a neuropsicóloga Rosimeire Lopes, especialista em Neuropsicologia e proprietária da clínica Reanima Psicologia.
A especialista esclarece que, embora o número de diagnósticos tenha crescido, não há um aumento real do TDAH na população. O que ocorre é um maior acesso à avaliação por parte dos indivíduos, resultando em diagnósticos mais precisos.
Rosimeire Lopes traça um paralelo entre o TDAH e o autismo, chamando-os de “primos/irmãos”. Enquanto o TDAH se caracteriza pela desatenção e impulsividade, o autismo se manifesta pela rigidez comportamental. O diagnóstico precoce é crucial em ambos os casos, especialmente em crianças menores de seis anos, quando os sintomas podem ser mais sutis.
Na infância, os sintomas típicos de TDAH incluem agitação, dificuldade de concentração, impulsividade, problemas de sono, imaturidade, comportamento desafiador e, em casos mais graves, agressividade.
Leia a íntegra da entrevista
Existe um motivo concreto para o aumento de pessoas com TDAH pelo mundo?
O transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), afeta em torno de 5 a 7% da população mundial, causando uma série de impactos na vida de quem o possui, de quem cuida e na vida de quem convive. Não houve um aumento do TDAH, até porque no século 17, aparece os primeiros estudos sobre as alterações no humano desse transtorno. O TDAH é um padrão persistente de dificuldades de atenção, agitação psicomotora e impulsividade, é um transtorno do neurodesenvolvimento, isto é um quadro do desenvolvimento. O que acontece é que atualmente as pessoas estão tendo mais acesso à especialistas, portanto são realizados mais diagnóstico.”
Existe alguma casualidade entre o TDAH e outros distúrbios neurológicos, como o autismo, por exemplo?
Gosto muito de uma frase que ouvi: o TDAH e o autismo são como primos/ irmãos, com uma fraca linha delineada entre eles. Porém, enquanto vemos no TDAH uma desatenção bastante severa e uma impulsividade disparante, no caso do autismo percebo uma rigidez comportamental. Mas é bom lembrar que quando realizamos diagnóstico em crianças menos de seis anos é mais difícil de realizar o diagnóstico, pois muitas crianças com autismo suporte 1 podem camuflar alguns sintomas.”
Quais são os principais sintomas de TDAH apresentados na infância?
Em geral é uma criança agitada, hiperativa, que não para quieta, com dificuldade no sono, que muitas vezes não fica sentada nem para comer. Esses casos são considerados os casos mais graves. São crianças que podem ser desatentas, bagunceiras, que não concluem suas tarefas, que são imaturas, falantes, que em alguns casos podem apresentar ansiedade ou depressão. De forma geral são muito teimosos, desafiadores, mas em alguns casos também são agressivos. Lembrando que os sintomas podem se apresentar em diversas fases da infância. Em alguns casos o diagnóstico só será feito quando a criança começar a apresentar dificuldades escolares, nos casos mais graves, onde a criança apresenta severa impulsividade ou hiperatividade, podendo colocar sua vida em risco, os sintomas são apresentados ainda bebê.”
Quais os benefícios de um diagnóstico precoce?
“Quando o diagnóstico é feito precocemente, temos a possibilidade de tratar pessoas, educar, reeducar. Este indivíduo, em sua fase adulta, terá menos problemas no trabalho, menor dificuldade em cumprir os seus compromissos, será mais proativo, terá menos comportamentos antissociais, entre outros. Os custos gerados em indivíduos subeducados são imensos. Eles também são mais propensos a uso de drogas, a sofrer acidentes, a desenvolver comportamentos antissociais. O que temos que pensar é o prejuízo pessoal que esta pessoa tem sua vida, com a procrastinação, desatenção. Cerca de 25% dos casos têm diagnósticos de transtornos de Personalidade antissocial. É um sofrimento imenso!”
Quais os principais sintomas de um adulto com TDAH? Existem muitas diferenças entre um adulto diagnosticado e outro não diagnosticado?
As principais diferenças entre uma pessoa adulta com TDAH sem o diagnóstico é que esta perde o foco, faz as tarefas rápido demais, é desorganizada, desleixada, possui dificuldade em gerenciar o seu tempo, em cumprir prazo. Lógico que uma pessoa tratada consegue ser menos negligente com suas tarefas, estar mais inserido socialmente e não ter sofrimento por isso. Um dos maiores conflitos na vida adulta é a autorregulação emocional, que traz muito sofrimento e leva muitas pessoas a uso de drogas e até mesmo ao suicídio. 10% a 20% das crianças chegam à idade adulta sem sintomas significativos, quando tratadas.”
Quais são os critérios utilizados na avaliação neuropsicológica?
Quando recebemos um paciente para diagnóstico de Transtorno do Déficit de atenção/ Hiperatividade é necessário entender a história do neurodesenvolvimento dessa pessoa. Quando o paciente é criança, a dinâmica familiar, entender a história dos pais é essencial. São feitos exames psicométricos e avaliação clínicas envolvendo: escola, família, psicólogos e profissionais que fazem parte da dinâmica desse paciente, para que assim possa ser feito de fato.
Rosimeire Lopes, psicóloga e especialista em Neuropsicologia, pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental com Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo (ABA), palestrante sobre temas neuropsicológicos e de autoajuda, coautora do livro "Quais de nós você procura?”