Sarampo, peste bubônica e cólera.
Sarampo, peste bubônica e cólera. Três enfermidades que já foram epidêmicas e que, graças à vacinação em massa global e maior vigilância sanitária, foram praticamente erradicadas da face da Terra.
Praticamente? Sim, praticamente. Porque, como bons patógenos, sobrevivem em hospedeiros não vacinados ou em condições higiênicas precárias, em meio a uma grande pobreza, prontos para se propagarem a um novo organismo em um processo massivo de contágio.
Também praticamente, pois esta semana foi manchete em muitos jornais americanos um novo surto de sarampo, levando a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA a emitir um alerta em um comunicado publicado na sexta-feira, destacando a importância da vacinação para conter a potencialmente fatal doença.
“O sarampo se espalha tão facilmente que, se uma pessoa o tem, 90% das pessoas próximas a essa pessoa que não estão vacinadas ou não são imunes também serão infectadas. Começa com febre, tosse, coriza, olhos vermelhos e dor de garganta. Pouco depois, surge uma erupção de pequenas manchas vermelhas, começando pela cabeça e se espalhando para o resto do corpo”, acrescentou a entidade sanitária governamental.
Os especialistas da FDA alertaram que, embora estivesse a caminho da eliminação, a patologia ressurgiu devido à queda na cobertura vacinal.
“As vacinas aprovadas pela FDA podem prevenir a infecção e são seguras e altamente eficazes. Seu histórico é estelar: em 1963, antes do início dos programas generalizados de imunização contra o sarampo, até 4 milhões de americanos adoeciam com a doença anualmente”, disse a FDA.
E completou: “Dentre eles, entre 400 e 500 pessoas morriam, 48.000 eram hospitalizadas e 1.000 desenvolviam encefalite [inflamação do cérebro] devido ao sarampo a cada ano”. A vacinação mudou isso, levando a uma redução de 99% nos casos desde o início dos programas de imunização.
A Europa também enfrenta a ameaça do sarampo. Em janeiro, foi noticiado que o Velho Continente está experimentando um “aumento alarmante” nos casos de sarampo, conforme alertou a Organização Mundial da Saúde, com um aumento de mais de 30 vezes em toda a região. Em 2023, foram registrados 42.200 casos de sarampo em 41 Estados, em comparação com os 941 casos notificados em todo o ano de 2022.
O aumento dos casos acelerou nos últimos meses, e espera-se que a tendência de alta continue se não forem tomadas medidas urgentes em todo o mundo para evitar uma maior propagação.
“A vacinação é a única maneira de proteger as crianças dessa potencialmente perigosa doença. São necessários esforços urgentes de vacinação para interromper a transmissão e evitar uma maior propagação”, explicou o Dr. Hans Henri Kluge, diretor regional da OMS para a Europa.
Um dos países mais afetados é o Reino Unido, que em 2017 havia conseguido eliminar a circulação endêmica do vírus que causa o sarampo. No entanto, Zsuzsanna Jakab, na época diretora regional da OMS para a Europa, havia alertado que a cobertura da vacinação sistemática estava diminuindo. Menos de dois anos depois, o Reino Unido perdeu seu status livre e agora está no meio de uma emergência de sarampo, com centenas de crianças doentes nas últimas semanas.
A Dra. Mariam Molokhia, Clinical Reader em Epidemiologia e Atenção Primária do King’s College de Londres, considerou que “o sarampo é uma doença potencialmente grave, mas evitável, e estamos testemunhando um aumento nos surtos da doença nos locais onde a taxa de vacinação tríplice viral pode ser baixa”.
Na Argentina, a doença foi notícia no mês passado. Primeiro, devido a um bebê de 19 meses da cidade de Salta que não havia viajado para outros países e não estava vacinado. E também devido a um duplo caso na Cidade de Buenos Aires.
“Diante da confirmação de um novo caso de sarampo em um paciente de 13 meses, irmão do caso importado de seis anos, notificado em 8 de fevereiro, também residente de Barcelona, Espanha, o Ministério da Saúde da Nação e da Cidade Autônoma de Buenos Aires emitem o presente alerta com o objetivo de atualizar a situação epidemiológica e instar as equipes de saúde a fortalecer a vigilância de doenças febris exantemáticas (EFE), verificar e completar esquemas de vacinação e sensibilizar a população sobre a importância da consulta precoce diante da febre e exantema”, explicou o Governo da Cidade de Buenos Aires em 23 de fevereiro último.
E lembrou: “Dispomos das vacinas tríplice viral (que protege contra os vírus do sarampo, rubéola e caxumba) e dupla viral (protege contra sarampo e rubéola). A vacina tríplice viral é muito eficaz, obrigatória, e está incluída no calendário nacional de vacinação aos 12 meses de idade e no ingresso escolar aos 5 anos”.
Todas as pessoas a partir de um ano de vida devem ter um esquema de vacinação completo contra o sarampo e a rubéola, conforme o Calendário Nacional de Vacinação:
– De 12 meses a 4 anos devem apresentar uma dose da vacina tríplice viral.
– Maiores de 5 anos, adolescentes e adultos devem apresentar pelo menos duas doses da vacina com componente contra sarampo e rubéola aplicada após um ano de vida (dupla ou tríplice viral) ou ter sorologia IgG positiva para sarampo e rubéola.
– Pessoas nascidas antes de 1965 são consideradas imunes e não precisam ser vacinadas.
“A Argentina está entre os três países com maior risco de surtos de sarampo na América Latina. Os outros dois são Venezuela e Haiti”, disse recentemente a Dra. Silvia González Ayala, presidente da Sociedade Argentina de Infectologia Pediátrica, ao Infobae. “Deveríamos alcançar coberturas vacinais iguais ou superiores a 95% com a primeira e a segunda dose. Essas coberturas de 95% também devem ser atingidas durante as Campanhas Nacionais”, enfatizou.
Os recentes casos de sarampo resultaram em um comunicado do Ministério da Saúde datado de 9 de fevereiro último, destacando que “Todas as pessoas a partir do ano de vida devem ter um esquema de vacinação contra o sarampo adequado à idade, para proteção individual e com o objetivo de reduzir a quantidade de pessoas suscetíveis à doença e evitar possíveis surtos”.
Além de fornecer informações e recomendações sobre a doença, a carteira de saúde nacional lembrou que a Argentina interrompeu a circulação endêmica do sarampo em 2000. Desde então, ocorreram surtos curtos, sem perda do status de eliminação.