Alemanha, França e Reino Unido preocupadas com o avanço do programa nuclear iraniano, tomaram a iniciativa nesta segunda-feira e apresentaram uma resolução condenatória contra Teerã perante o conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Alemanha, França e Reino Unido preocupadas com o avanço do programa nuclear iraniano, tomaram a iniciativa nesta segunda-feira e apresentaram uma resolução condenatória contra Teerã perante o conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“O texto foi formalmente apresentado” à noite, declarou uma fonte diplomática à AFP, antes que uma segunda confirmasse a informação.
Reino Unido, França e Alemanha argumentaram que a resolução foi impulsionada pela “urgência de reagir diante da gravidade da situação”, segundo diplomatas.
De acordo com a AIEA, o organismo de controle nuclear da ONU responsável por verificar se o programa iraniano tem fins civis e não militares, a República Islâmica é o único país não possuidor da arma atômica que enriquece urânio a 60% e acumula estoques cada vez maiores.
O limiar se aproxima dos 90% necessários para fabricar uma arma atômica e supera em muito o máximo autorizado de 3,67%, que equivale ao que é usado para produzir eletricidade.
Teerã nega querer dotar-se de uma bomba e assegura que seu programa atômico é para uso civil.
Desde novembro de 2022, a junta de governadores da AIEA, composta por 35 países membros, não recebeu nenhuma resolução.
A reunião deste conselho começou nesta segunda-feira em Viena, e o texto apresentado será votado durante a semana.
O diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, insistiu que é “inaceitável falar de armas nucleares, como algumas pessoas o fazem no Irã”.
“A atual falta de conhecimento ( ) torna muito difícil voltar à diplomacia”, afirmou Grossi, referindo-se ao acesso limitado que a agência da ONU tem para supervisionar o programa nuclear iraniano.
Durante a última reunião em março, Reino Unido, França e Alemanha prepararam um texto, mas diante da falta de apoio de Washington, desistiram de apresentá-lo.
Oficialmente, os Estados Unidos negam estar obstruindo os esforços de seus aliados europeus.
“Os Estados Unidos temem que tal ação possa exacerbar as atuais tensões geopolíticas no Oriente Médio”, especialmente às vésperas das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos.
Os diplomatas entrevistados pela AFP não veem mais sustentável essa política devido a meses de escalada nuclear e acreditam que “a posição americana pode evoluir” antes da votação prevista ao longo da semana.
As relações entre Irã e AIEA se deterioraram, e a agência nuclear da ONU agora enfrenta dificuldades para garantir o “caráter exclusivamente pacífico” do programa nuclear iraniano.
Grossi viajou ao país no início de maio para retomar o diálogo, exigindo “resultados concretos o mais rápido possível”.
Mas a morte do presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em 19 de maio suspendeu as conversações.
O chefe da AIEA negou que a pausa fosse uma “tática” do Irã para adiar as discussões e disse que estava pronto para “sentar-se com as novas autoridades” após as eleições presidenciais de 28 de junho.
No entanto, os europeus querem intensificar a pressão sem mais delongas.
A resolução, simbólica neste momento, resume os pontos em disputa. Em primeiro lugar, a presença de resíduos inexplicáveis de urânio em dois locais não declarados.
É “essencial e urgente” que Teerã forneça razões “tecnicamente críveis”, aponta o texto confidencial consultado pela AFP.
O Irã também deve explicar por que se recusou a conceder credenciais a alguns inspetores da AIEA e reconectar as câmeras de vigilância “sem demora”.
O documento também destaca as “preocupações” em torno das “recentes declarações públicas no Irã sobre as capacidades técnicas do país de produzir armas nucleares e possíveis mudanças em sua doutrina nuclear”.
A República Islâmica tem se desvinculado gradualmente de seus compromissos incluídos no acordo internacional de 2015 firmado com Estados Unidos, China, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido.
O pacto deveria fornecer um quadro para as atividades nucleares do Irã em troca do levantamento das sanções internacionais.
Mas os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018 durante o governo do republicano Donald Trump, e as tentativas de reviver o acordo fracassaram.
Ali Shamkhani, conselheiro político do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, alertou no sábado em X que se “alguns países europeus equivocados ( ) adotarem uma postura hostil em relação ao Irã ( ) no conselho, enfrentarão uma resposta séria e eficaz de nosso país”.
Com informações da AFP