Política FALHA

Tribunal emite certidão errada, e condenado por estupro de vulnerável vira suplente de vereador

Justiça Eleitoral exige certidão de antecedentes criminais para liberar registros, e candidato conseguiu documento que o apresenta como ficha limpa mesmo com condenação definitiva.

Por Camila da Silva, Izabella Lima*, Maria Romero, Mariane Aquino, Pedro Lima*, g1 e g1 Piauí — São Pau

22/10/2024 às 10:24:34 - Atualizado há

Mesmo condenado em definitivo (quando não há mais como recorrer) desde 2022 por estuprar uma adolescente na zona rural de uma pequena cidade do Piauí, o funcionário público Gasparino Lustosa Azevedo conseguiu, em agosto de 2024, uma certidão de ficha limpa no estado.

Com essa certidão, expedida indevidamente pelo Tribunal de Justiça do Piauí, Azevedo concorreu a uma vaga de vereador de Sebastião Barros. Com 135 votos, não se elegeu, mas se tornou o 1º suplente do PT na câmara do município de 3.202 habitantes, a 900 km de Teresina. Se o titular do cargo desistir ou for cassado, ele pode assumir.

O crime ocorreu em 2015, com a primeira condenação em 2019 e a condenação definitiva em 2022. No entanto, Gasparino Azevedo não foi preso desde então e, em 4 de outubro de 2024, dois dias antes do primeiro turno, a Justiça emitiu a ordem de prisão. Até a publicação desta reportagem, ele continuava sendo procurado pela Justiça.

Tribunal admite 'falha técnica'

Procurado, o Tribunal de Justiça do Piauí assumiu que "uma falha técnica no sistema" permitiu a emissão indevida da certidão negativa, e que o problema foi corrigido.

"Ao tomar conhecimento do caso, a equipe técnica da Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação do TJ-PI detectou uma falha técnica no sistema que levou ao desencontro de informações sobre o referido processo, o que já foi devidamente corrigido. Por fim, reafirmamos o compromisso do TJ-PI com a boa prestação jurisdicional, a transparência e o contínuo aperfeiçoamento de seus sistemas", informou o tribunal .

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) informou que apura o caso. "Havendo qualquer indício de fraudes e/ou erros apurados em face da emissão das certidões, serão tomadas as devidas providências", disse o órgão, em nota.

A emissão de uma certidão negativa de antecedentes criminais para um condenado por estupro surpreendeu advogados criminalistas ouvidos pelo g1."Geralmente eles puxam tudo, até caso que não tinha que aparecer, aparece. E o caso é de 2022, muito recente para não constar na ficha dele", afirma Ingrid Ortega, advogada criminalista.

Azevedo não respondeu aos contatos do g1 por telefone. O PT afirmou que está acompanhando as investigações e que "não cabe ao partido realizar julgamentos prévios".

A Prefeitura de Sebastião Barros diz que vai analisar a situação do funcionário.

    Fonte: G1
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