O grupo Hamas anunciou neste sábado que só entregará um refém com cidadania americana e israelense, além dos corpos de outros quatro sequestrados, caso Israel implemente o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza. A organização classificou a proposta como um “acordo excepcional” com o objetivo de restabelecer a trégua.
Um alto integrante do Hamas afirmou que as negociações sobre a segunda fase do cessar-fogo, que estão atrasadas, deveriam começar no dia da libertação e não se estender por mais de 50 dias. Segundo ele, Israel também teria que permitir a entrada de ajuda humanitária sem restrições e retirar suas forças de um corredor estratégico ao longo da fronteira de Gaza com o Egito.
O Hamas ainda exigiria a libertação de mais prisioneiros palestinos em troca dos reféns, acrescentou o representante, que falou sob condição de anonimato por se tratar de uma negociação sigilosa.
Refém americano
Edan Alexander, que cresceu em Tenafly, Nova Jersey, foi sequestrado em sua base militar durante o ataque promovido pelo Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, episódio que deu início ao conflito. Ele é o último cidadão americano ainda vivo mantido como refém na Faixa de Gaza.
Israel desconfia da oferta do Hamas
O governo israelense não comentou a proposta imediatamente, já que as repartições públicas estavam fechadas pelo sabá. No entanto, o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de promover “manipulação e guerra psicológica” ao apresentar a oferta inicial, antes de detalhar suas condições.
Os Estados Unidos afirmaram que apresentaram na quarta-feira uma proposta para estender o cessar-fogo por algumas semanas enquanto se negocia uma trégua definitiva. Segundo Washington, o Hamas busca aparentar flexibilidade publicamente, mas, nos bastidores, faz exigências “totalmente inviáveis”.
As negociações continuam no Egito, após a chegada a Cairo de Khalil al-Hayya, um dos líderes do Hamas, na sexta-feira. Egito e Catar têm atuado como principais mediadores e seguem tentando viabilizar um novo acordo.
Impasse sobre cessar-fogo
Pelo acordo de cessar-fogo firmado em janeiro, Israel e Hamas deveriam iniciar negociações para a segunda fase — na qual o grupo libertaria todos os reféns em troca de uma trégua permanente — no início de fevereiro. Até o momento, no entanto, apenas conversas preliminares ocorreram.
Após a conclusão da primeira fase, no início deste mês, Israel declarou ter aceitado uma nova proposta dos Estados Unidos, na qual o Hamas entregaria metade dos reféns restantes em troca de um compromisso vago para avançar em um cessar-fogo duradouro. O grupo rejeitou essa oferta e acusou Israel de descumprir o acordo assinado e de tentar sabotar a trégua.
A primeira fase da trégua, iniciada em 19 de janeiro, resultou na libertação de 25 reféns israelenses e na entrega dos corpos de oito outros sequestrados, em troca da soltura de quase 2.000 prisioneiros palestinos. Durante o período, as forças israelenses se retiraram para uma zona de segurança ao longo da fronteira da Faixa de Gaza e permitiram a entrada ampliada de ajuda humanitária.
No entanto, um oficial israelense declarou no mês passado que Israel não pretende retirar suas forças do chamado Corredor Filadélfia, na fronteira entre Gaza e Egito, sob a justificativa de combater o tráfico de armas na região.
Contexto do conflito
A guerra teve início em 7 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas — a maioria civis — e sequestrando outras 251. O grupo ainda mantém 59 reféns, dos quais 24 são considerados vivos, após a libertação da maioria durante acordos anteriores de cessar-fogo.
O enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, alertou na sexta-feira que os Estados Unidos responderão “de acordo” caso o Hamas não cumpra os prazos estabelecidos nas negociações para encerrar o conflito.
“Hamas aposta que o tempo está ao seu favor. Não está. O grupo conhece os prazos e deve saber que responderemos se não forem cumpridos”, declarou Witkoff em um comunicado emitido pela Casa Branca.
O Hamas confirmou na sexta-feira ter aceitado retomar as negociações indiretas com Israel e demonstrou disposição para liberar o soldado Edan Alexander, além dos corpos de outros quatro reféns, na segunda fase do acordo.
De acordo com fontes da imprensa israelense, a proposta defendida por Witkoff previa a libertação de cinco reféns vivos em troca de 50 dias de cessar-fogo em Gaza, durante os quais novas negociações ocorreriam para definir os termos do acordo definitivo.
Em comunicado oficial, os EUA reforçaram que, por meio dos parceiros egípcios e catarianos, informaram ao Hamas que o plano deveria ser implementado rapidamente e que Edan Alexander deveria ser libertado imediatamente.
A nota também destacou que o ex-presidente Donald Trump advertiu que o Hamas “pagará um preço alto” caso não liberte os reféns “de imediato”.
Apesar disso, o Hamas reiterou publicamente sua “total disposição” para cumprir a segunda fase do acordo, cobrando que Israel também cumpra suas obrigações.
(Com informações da AP)A
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