Enquanto eu dormia, minha mãe fazia ponto cruz, testava uma nova receita, folheava a revista Manchete e, possivelmente, cochilava. Muita coisa mudou. A demanda que nós mães temos hoje é bem diferente. Já faz algum tempo que eu tive meu filho. Dizem que a gente esquece, né? Eu não esqueci. Se antes as mães tinham baby blues, hoje temos baby furta cor. Nenê plugado no peito, nós plugadas no WhatsApp, tentando salvar o mundo enquanto botamos pra arrotar. Sem falar no Instagram. Eu não sabia se postava, curtia, comentava ou trocava a fralda. Ligava o Netflix e tinha nove séries na lista, incluindo aquela ótima sobre maternidade real. Aqui estava mais para maternidade (sur)real. Não ia ao supermercado, mas ficava brigando com o app do Pão de Açúcar que dava pau toda vez que eu escrevia Aptamil.
Eu amo loucamente meu filho. Com ele rio e choro do fundo da alma. Mas gravidez… Sei que tem muita gente que adora, mas eu particularmente prefiro que me deem dez filhos, um cachorro e uma calopsita pra criar, do que uma barriga. Meu pé parecia uma bisnaguinha, muito calor e noites mal dormidas, me preparando para o que viria depois (a natureza é mesmo sábia). Nasceu o bebê. Eu queria um parto lindo, natural e astral, já tinha uma doula e estava tudo programado. Mas não rolou. O que rolou foi a cesárea que pareceu uma luta de boxe que eu perdi. Aliás, quem não pediu ou chegou a pensar em pedir para ficar mais um diazinho no hospital?
Amamentação, para mim, não foi um sonho. Veja bem, se fosse duas vezes por dia, seria ótimo, mas 8, 9, 10, de madrugada? Mesmo assim, amamentei por 4 meses. Foi ficando legal. Mas ficar em cativeiro nesse período foi tenso. Não beber e não fumar, pode ser difícil. Não comer chocolate, impossível. Ter que faltar na aula de balé fitness foi chato, mas ir dançar e molhar o collant de leite foi “uó!” Fazer terapia online no bunker não é a mesma coisa. Manicure em casa, um dia animado. Parquinho: babás, bebês e bactérias. Ninguém para conversar já que o bebê não fala, mas pelo menos escuta. E como escuta.
Me mandaram dormir enquanto ele dormia. Como? Bem naquela horinha em que eu podia fingir que era gente e que até dava um branco: “O que fazer com todo esse tempo livre?” Aí o bebê acordava. Estava assado. Eu tinha certeza que era uma péssima mãe, sensação que sabia que ia ter mais umas mil vezes, pelo menos, nos próximos 20 anos. Mas na verdade eu era (sou) uma ótima mãe, porque ótimas mães se importam tanto com seus filhos, que se acham péssimas mães.
Aí a minha mãe chegava. Dava vontade de voltar para a barriga dela. Ela virava o bebê de lado, ignorando a Organização Mundial da Saúde, tentava dar suco de laranja lima para o recém nascido (segundo ela é bom pro intestino), pegava o umbigo que tinha acabado de cair e botava na geladeira, jogava talco no bebê, cortava sua unha, dizia que eu estava indo muito bem e vazava para o spinning. Ah, as avós nos tempos do iPhone. Meu marido saía pra trabalhar (leia-se descansar). Eu desejava um bom dia, ele sorria, eu pensava em como ele era sortudo, sorria de volta e me imaginava jogando um sapatinho de bebê na nuca dele. Os maridos de hoje em dia são bem mais participativos do que os da era da TV de tubo. No entanto, o mundo insiste em elogiar o homem que troca uma fralda, dá um banho, bota pra dormir. “Ah, como ele ajuda… Ele é uma mãe”. Como se não fizesse parte da vida dele cuidar do próprio filho e ele estivesse dando uma super mão para a mãe da criança.
Durante o dia o bebê chorava, depois de 10 minutos eu chorava, mandava um zap para o pediatra (será que é cólica?), trocava 6 fraldas de cocô, tirava foto da fralda e mandava para o pediatra (essa cor tá normal?). Eu já tinha passado Bombril e lanolina no seio que rachava assim mesmo, chorávamos mais um pouco, dormia com o bebê no colo, acordava exausta. Mas quando ele sorria, tudo passava, meu coração derretia e eu sabia que faria de tudo para ele sorrir sempre. Então pegava o iPhone, tirava uma foto daquele sorriso e postava no Instagram. Só para parecer que eu estava tirando tudo aquilo de letra.