A pesquisa realizada pela ChildFund Brasil mostra um panorama de como estas violências ocorrem e revelou que mais de 90% dos casos de agressões ocorrem dentro de casa. Em 72,7% dos episódios a vítima e o agressor moram na mesma residência, enquanto 15,7% ocorrem na casa exclusivamente da vítima e 5,2% no imóvel do acusado. Os 6% restantes ficam distribuídos entre vias pública (1,5%), casas de familiares (1%), ambiente virtual (0,8%), estabelecimentos de ensino (0,5%) e unidades de saúde (0,3%). Em entrevista à Jovem Pan News, Maurício Cunha, que é diretor da instituição, falou sobre o levantamento: “A violência contra a criança no nosso país acontece no ambiente doméstico. Em mais de 70% dos casos, no mesmo ambiente que vivem a criança e o agressor. E se você soma os dados de quando ocorre no domicílio da criança, com um agressor que é de fora daquele domicílio, e o contrário, aí vai para mais de 90%”. A pesquisa também identificou que falta uma integração para gerar uma rede de apoio às vítimas de violência.
“Os serviços não se organizam em torno da criança e de sua família. É a criança agredida, vítima, que tem que se organizar em torno dos serviços. É um exemplo de falta de intersetorialidade nas ações de proteção da infância”, afirmou Cunha. O levantamento foi feito entre outubro de 2022 e janeiro de 2023 e escutou 698 pessoas, entre crianças, adolescentes, familiares e professores que atuam na faixa etária de 0 a 8 anos. Os questionários foram aplicados por telefone, de forma online e também presencial. “Uma questão interessante de se destacar nesta pesquisa é que ela também contou com dados primários, ou seja, aqueles coletados diretamente do público. Foram feitas entrevistas com crianças, adolescentes e jovens sobre a percepção que eles tem da violência, como também os operadores das políticas públicas. Esse foi um dos diferenciais da pesquisa”, detalhou o diretor da ChildFund.
Os pais, responsáveis ou pessoas próximas às vítimas podem perceber alguns sinais que são emitidos pelos jovens. Isso porque as mais diferentes violências nunca são 100% silenciadas, mesmo que sejam crianças que ainda não conseguem verbalizar a situação, como explica o psicólogo e doutor em ciência do comportamento, Yuri Busin, que destacou quais os indícios gerados pelas vítimas: “Se você perceber uma agressividade, um medo muito intenso sobre alguma coisa, os desenhos dela, que são técnicas projetivas, porque às vezes elas não têm uma verbalização tão clara do que está acontecendo e brincadeiras que são muito mais violentas do que o comum dela, olhe com carinho”. Além disso, o especialista destaca que a violência contra crianças e adolescentes pode ocorrer de várias maneiras tanto física, quanto psicológica e sexual: “As violências muitas vezes não são apenas de toque. Não é só às vezes uma porrada, um tapa ou alguma coisa do gênero. Às vezes a violência é por meio das falas, da agressividade verbal, de assistir TV em certas situações que não são adequadas, de não ter regras, onde existe a interferência de várias coisas. Existem várias formas de agressividade”.
De acordo com o psicólogo, uma criança ou adolescente vítima de violência pode ter traumas irreversíveis para o resto da vida: “Existem pessoas que vão ter gatilhos, ansiedades, comportamentos, situações onde muitas vezes elas não entendem por que estão fazendo aquilo, ou por que aquilo dói muito nelas e acabam se comportando de uma forma meio doída para elas mesmas e isso muitas vezes vem dos traumas das crianças”. O Disque 100, criado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, recebe encaminha e monitora denúncias de violência contra crianças e adolescentes. O serviço gratuito atende qualquer parte do Brasil.
*Com informações do repórter David de Tarso
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