Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) concluíram o processo de desocupação de um terreno da Embrapa Semiárido, em região localizada a 712 km de Recife, chamada de Petrolina, desde o fim do último sábado. No total, cerca de 600 famílias deixaram o local após invasão realizada numa ação conjunta chamada de "Abril Vermelho", em que o grupo social passou a realizar marchas, ocupações e vigílias a fim de reivindicar a realização de uma reforma agrária no país. A saída dos militantes passou a ocorrer de maneira gradativa após reunião entre líderes do MST com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Aos manifestantes, o governo federal prometeu realizar um levantamento e mapear as famílias acampadas, a fim de comprar cinco propriedades na região para o assentamento de todos, bem como o envio de lonas e cestas básicas para aqueles que seguem na espera de uma reforma agrária.
Mesmo com as negociações, membros da Esplanada passaram a expor o receio da onda de invasões diminuir o capital político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de desgaste com a sociedade civil. Há um temor de que a avaliação do governo aumente de maneira negativa, principalmente aos olhos do agronegócio, bem como atrase a tramitação de projetos no Congresso Nacional. Na última sexta-feira, 21, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, voltou a criticar as ocupações e invasões que o MST promove em fazendas e propriedades rurais. De acordo com o político, há "outras formas de lutar" e reivindicar os direitos sem que a promoção de uma ocupação ocorra. Discordo de qualquer tipo de invasão de áreas produtivas, sobretudo áreas em que estão se desenvolvendo pesquisas, como forma de luta. Acredito que o MST e outros movimentos disponham de outras formas de luta, que podem conquistar ainda mais a sociedade para causas importantes como reforma agrária, agricultura familiar e produção de alimentos no nosso país", pontuou.
Na última semana, os líderes do MST passaram a ocupar espaços públicos. O grupo invadiu ao menos nove fazendas – sendo oito delas no estado de Pernambuco, consideradas latifúndios improdutivos pelo movimento – e sete sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Minas Gerais, Alagoas, Santa Catarina, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Sob o nome de Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, os manifestantes prometeram realizar vigílias para "trazer para o centro da luta política a questão do acesso à terra. Através de publicação no site oficial do grupo, o diretor nacional do movimento, Ceres Hadich, afirmou que o Brasil é o "país do latifúndio, com maior índice de concentração de terras" e declarou que a reforma agrária é uma "dívida histórica com os povos do campo".
Ao explicar as invasões às sedes do Incra, Hadich explicou que busca uma sinalização do governo de que o Planalto irá atender as demandas das famílias acampadas. "Queremos que o Ministério do Desenvolvimento Agrário apresente medidas concretas e um cronograma de ações para os quatro anos", disse. Já o Embrapa Semiárido divulgou uma nota em que classificou as terras como "patrimônio do governo brasileiro". "Neste momento, a invasão à área da Embrapa já está trazendo danos à condução de seus trabalhos e ao planejamento da execução de projetos e ações de pesquisa, que incluem parceiros com quem temos estabelecido avanços de cooperação que repercutirão em resultados de alto potencial de adoção junto aos produtores do Semiárido", pontua trecho do posicionamento.