Os vinhos mais famosos da região francesa de Bordeaux, de onde vem as garrafas mais caras do mundo e, reconheça-se, os melhores e mais bem feitos tintos, são, sem a menor dúvida, aqueles que receberam a classificação de 1855, quando Napoleão III, imperador da França, decidiu fazer uma Exposição Universal em Paris, uma espécie de feira mundial, e queria que todos os vinhos do país fossem representados.
Os vinhos mais famosos da região francesa de Bordeaux, de onde vem as garrafas mais caras do mundo e, reconheça-se, os melhores e mais bem feitos tintos, são, sem a menor dúvida, aqueles que receberam a classificação de 1855, quando Napoleão III, imperador da França, decidiu fazer uma Exposição Universal em Paris, uma espécie de feira mundial, e queria que todos os vinhos do país fossem representados. Ele convidou a Câmara de Comércio de Bordeaux (hoje o Conseil Interprofessionnel du Vin de Bordeaux é um conselho francês desenvolvido para regulamentar os preços, evitando a desvalorização e a grande divergência de valores praticados entre os negociantes) para organizar uma exposição. Os membros da câmara reconheciam um ninho de vespas quando viam um, e entenderam necessária a sistematização de classificação dos vinhos de Bordeaux para atender aos objetivos da grande feira. Resolveram, de acordo com seus registros, apresentar “todos os crus classés”, mas pediram ao Syndicat of Courtiers uma organização de comerciantes que elaborasse uma lista exata e completa de todos os tintos vinhos da Gironda que especifica a que classe pertencem.
Os cortesãos mal pararam para pensar; duas semanas depois, entregaram a famosa lista. Incluía 58 castelos (chateau): quatro primeiros classificados, 12 segundos, 14 terceiros, 11 quartos e 17 quintos. Eles esperavam polêmica. “Vocês sabem tão bem quanto nós, senhores, que esta classificação é uma tarefa delicada e destinada a levantar questões; lembrem-se que não tentamos criar um ranking oficial, mas apenas oferecer-lhe um esboço extraído das melhores fontes.” Claro que ficaram de fora os tais “vinhos dos negociantes” (ou “négociant”, em francês), que são de extrema importância e oferecem joias engarrafadas. Injustamente deixadas de lado, são, de verdade, os grandes responsáveis pela disseminação da fama e do nome dos “Vinhos de Bordeaux” pelo mundo afora.
Reitero: são os negociantes de suma importância no mercado do mundo do vinho. Eles costumam trabalhar sozinhos, um cargo de confiança que passa de pai para filho, mas também existem empresas específicas que cumprem esse papel. Importante destacar que, para identificar se o vinho, nesse caso elaborado na França, foi engarrafado por um negociante, basta ficar atento às informações em francês “Négociant” ou “Mis en la Bouteille par” estampadas no contrarrótulo ou no rodapé do rótulo frontal. Segundo a revista eletrônica Wine, somente em Bordeaux existem cerca de 300 negociantes (individuais e empresas) atuando em 170 diferentes países — e cerca de 60% de toda a produção de Bordeaux são engarrafados e distribuídos pelos “négociants”.
A verdade é que há muitos pequenos viticultores em Bordeaux que produzem vinhos de qualidade esmerada. Entretanto, não possuem capacidade financeira para engarrafar seus produtos e muito menos para colocá-los no disputadíssimo mercado internacional. Os vinhos dos negociantes podem trazer surpresas incríveis, seja na qualidade, seja na longevidade. Eu mesmo já bebi vinhos de Bordeaux de negociantes que, com mais de 50 anos de idade, estavam excepcionais se comparando aos do topo da clássica classificação de 1.855. Salut!