A fraude envolvia a "compra" de pelo menos 35 cargos, nas mais diversas áreas da prefeitura
A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta quinta-feira (29), a Operação Ápate, que investiga fraudes no concurso público da Prefeitura de Mirassol D'Oeste (300 km de Cuiabá). As apurações apontam que candidatos chegaram a pagar mais de R$ 92 mil para garantirem uma vaga no certame.
Conforme divulgado pela polícia, a fraude envolvia a compra de, pelo menos 35 cargos, nas mais diversas áreas da prefeitura, dentre elas: dentista, procurador, psicólogo, enfermeiro e professor.
O valor cobrado pelos responsáveis pelo esquema fraudulento foi de 10 vezes o salário do cargo. Por exemplo, para o cargo de enfermeiro o salário inicial é de R$ 7.038,25 e a pessoa que supostamente ficou com a vaga pagou R$ 70 mil à quadrilha.
Para o cargo de dentista, uma das que tem o salário inicial mais alto, de R$ 9.267,27, a pessoa que queria garantir a vaga pagou mais de R$ 92 mil ao grupo.
A operação cumpre 84 ordens judiciais, entre mandados de prisão, de busca e apreensão, afastamento de sigilo bancário, suspensão de função pública, suspensão de atividade econômica, medidas cautelares de monitoramento eletrônico e bloqueio de bens no valor de R$ 1,6 milhão.
Entre os envolvidos estão o vice-prefeito de Porto Esperidião, Antônio Carlos Laudivar Ribeiro e a chefe de gabinete da prefeitura.
Os mandados de buscas estão em cumprimento em Mirassol d"Oeste, Cuiabá, Glória d"Oeste, São José dos Quatro Marcos, Indiavaí, Araputanga, Rio Branco, Porto Esperidião e Lambari d"Oeste.
Sobre o esquema
O esquema era operado por J.R.P.. Ele era responsável por intermediar a compra do gabarito, entre candidatos e o dono da empresa responsável pela realização do concurso. O homem é proprietário de uma empresa que presta serviços para prefeituras na região Oeste do estado.
J.R.P. teve um aparelho celular apreendido em uma investigação sobre o homicídio do advogado e empresário Francisco de Assis da Silva, proprietário do Grupo Fassil, em São José dos Quatro Marcos.
Após perícia no aparelho, os policiais civis de Quatro Marcos apontaram em relatório de investigação evidências da fraude no concurso público de Mirassol d"Oeste, com informações que traziam como foi o esquema da associação criminosa, os envolvidos diretamente na fraude e o valor pago pelos candidatos que teriam suas vagas supostamente asseguradas.
Em sentença do juízo da Comarca de São José dos Quatro Marcos foi deferido o compartilhamento dos elementos informativos à Delegacia de Mirassol d'Oeste, que instaurou a investigação sobre a fraude no concurso.
As diligências realizadas apontaram que no dia 21 de janeiro de 2022, ou seja, antes mesmo da aplicação das provas do concurso, J.R.P. já tinha a relação com os nomes de 35 aprovados. Mas as provas só seriam realizadas mais um mês depois, em 27 de fevereiro.
Participação de vice-prefeito
Conforme as investigações, o vice-prefeito de Porto Esperidião auxiliou J.R.P. a fazer a troca dos gabaritos das provas do concurso. Já a chefe de gabinete usou recurso público para pagar pela vaga no concurso para um familiar.
A Justiça decretou as prisões preventivas de todos os envolvidos. A mulher também teve a suspensão do cargo determinada judicialmente.