Sem ligação alguma com crimes ou facções, Pablo Ronaldo teve morte ordenada por líder do CV no RJ
A execução violenta do jovem trabalhador Pablo Ronaldo Coelho dos Santos, que teria sido ordenada por Robson Júnior Jardim dos Santos, vulgo Sicredi, de dentro do Complexo Penal de Bangu, no Rio de Janeiro, mostra a fragilidade do sistema prisional brasileiro, onde líderes de facções criminosas ditam, de dentro de suas celas, quem deve viver ou morrer em estados muitas vezes distantes do local onde está confinado. É o que aconteceu com Pablo, vítima de uma guerra entre facções sem nem mesmo ter qualquer passagem criminal ou vínculo com o Primeiro Comando da Capital (PCC) ou o Comando Vermelho (CV).
Conversas extraídas de celulares dos 12 suspeitos de envolvimento no crime explicam como se deu a empreitada criminosa. Consta no relatório da Polícia Civil, ao qual o teve acesso, que de dentro de Bangu I, Sicredi coordenou via celular, tanto por videochamada como por mensagens, o sequestro, a tortura e morte de Pablo.
Os diálogos era travados por Sicredi com Andrey Ariel de Lima, vulgo "Tubarão", preso na Penitenciária Central do Estado, e Edson Gerson Machado de Moura, o "Panda", que está detido no Complexo Penitenciário Ahmenon Lemon Dantas, em Várzea Grande. Os dois últimos são descritos no documento policial como "velhos conhecidos criminosos da cidade de Sorriso e chefes do alto escalão do crime organizado". Ao que tudo indica, mesmo dentro das respectivas cadeias, as três lideranças do Comando Vermelho têm acessos a celulares e redes sociais, mandando e desmandando em seus subordinados.
Preso no Rio de Janeiro, "Sicredi" é apontado como o chefe do CV na região Médio-Norte de Mato Grosso e é apontado como mandante de quase uma centena de homicídios nos últimos cinco anos. Conforme a Polícia, as investigações das diversas mortes vinculadas à facção da qual ele faz parte demonstraram que absolutamente nenhum crime dessa natureza ocorre sem a ordem e coordenação do investigado. Tanto é que um dos seus subordinados, o suspeito Jonas Rodrigues da Silva Neto, vulgo "Magrelo", precisou prestar contas ao superior após o colega de Pablo, G.B.S. - que também havia sido sequestrado - conseguir fugir.
"Notou-se até mesmo o absurdo de que após a fuga de G.B.S., Jonas Rodrigues da Silva Neto, vulgo 'Magrelo' teve que apresentar relatório escrito ao seu superior para justificar o não cumprimento da ordem emanada", diz trecho do relatório.
Segundo as investigações, foi durante uma conversa sobre a prestação de contas do tráfico de drogas local que Sicredi sentenciou as vítimas à morte. O relatório destaca que a decisão foi tomada de forma unilateral, pois o investigado diz que depois " se vira com o conselho".
Conversas extraídas de celulares entre "Magrelo" e "Sicredi" demonstram toda a participação do investigado como mandante do crime, desde a ordem de execução como para gravar o vídeo da morte, a cobrança pela prestação de contas do resultado e da destruição das provas do crime. "Sicredi", aliás, enviou várias mensagens de áudio ao subordinado.
"Trata-se da inconfundível voz que já tirou a vida de dezenas de jovens de nossa região e agora, de forma covarde sem nenhum motivo, retirou a vida de Pablo Ronaldo Coelho dos Santos", destaca trecho do relatório.
Já "Panda", ordenando atividades criminosas do presídio de Várzea Grande, foi quem recebeu o vídeo da execução de Pablo, segundo a Polícia Civil. Ele, aliás, já havia sido alvo da Operação Saga de Gêmeos este ano, acusado de ter ordenado, do alto de sua cela, uma extorsão mediante sequestro na cidade de Sorriso.
"As investigações demonstraram, inclusive, que Edson Gerson Machado de Moura, vulgo 'Fôfo' ou 'Panda' ou 'Meliodas' foi quem recebeu o brutal vídeo da execução de Pablo Ronaldo Coelho dos Santos e o enviou a Jonas Rodrigues da Silva Neto ['Magrelo']. Edson Gerson Machado de Moura envia o vídeo da execução às 15h39", diz trecho do relatório.
Com "Panda", nessa sexta (07), foram apreendidos celulares, chips e uma grande quantidade de entorpecente. Segundo a Polícia Civil, durante as investigações foi descoberto que outro investigado, Joabe Vingre do Nascimento Conceição, o "Jacaré", também precisou prestar contas do assassinato de Pablo à "Panda".
"Descobriu-se ainda que 'Jacaré' telefonou para Edson Gerson Machado de Moura informando que estava aguardando os enviados de Andrey Ariel de Lima, vulgo 'Tubarão' retornarem da execução", diz.
Alvos da Operação Procusto, "Sicredi", "Panda" e "Tubarão" foram indiciados por homicídio qualificado, homicídio qualificado tentado, ocultação de cadáver, tortura majorada pelo sequestro por duas vezes e organização criminosa.
Sinal em festa e sequestro
Natural do interior de São Paulo, Pablo Ronaldo foi sequestrado por integrantes do Comando Vermelho em 19 de abril, em Nova Ubiratã (a 477 km de Cuiabá), após fazer um gesto com as mãos durante uma festa que foi associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) - facção rival a dos suspeitos do sequestro.
Vídeo da violenta execução de Pablo, que não será publicado pelo , mostram a vítima, a todo momento, pedindo "pelo amor de Deus". Pablo foi esgorjado e posteriormente decapitado. Seguindo instruções de seus comparsas, os executores também mutilaram suas mãos, arrancando os dedos supostamente usados para fazer o sinal da facção rival.
Segundo a Polícia Civil, além das lideranças já citadas, estão envolvidos diretamente da brutal execução os investigados Lucas da Silva Aguiar, vulgo "Ciclone"; Matheus Pereira da Silva; Joabe Vingre do Nascimento Conceição, vulgo "Jacaré"; Douglas da Silva, vulgo "Tocha"; Dayane Moreno dos Santos; Hisla Bruna Santana Sampaio, vulgo "Mana Joice"; Jonas Rodrigues da Silva Neto, vulgo "Magrelo"; e Maria Rita Araújo Ribas, vulgo "Mana Profe". Todos foram alvos da Operação Procusto.
Veja abaixo o organograma dos suspeitos de envolvimento na morte de Pablo, segundo a Polícia Civil: