Cristiano Ronaldo, democracia e ditadura

É um fato do cotidiano em Portugal. Dos 5 aos 85 anos, todos os portugueses amam o futebol e amam falar sobre futebol. É paixão nacional, e muito movido nas duas últimas décadas pelo sucesso da seleção nacional e, principalmente, pelo maior ídolo português: Cristiano Ronaldo.

“O campeonato português hoje é um circo!”

No período da chamada data Fifa, as seleções estão reunidas para os jogos das eliminatórias da Copa do Mundo e da Eurocopa. Cristiano Ronaldo, está em casa, e sentido-se em casa deu declarações sobre o campeonato português e sobre as polêmicas recentes. Ele desancou o campeonato de Portugal, dizendo que jamais terá condições de chegar ao topo dos melhores campeonatos da Europa. O que falta? Cristiano Ronaldo dispara a crítica: falta seriedade, falta discutir mais o jogo do que as questões extra campo. E completou: o campeonato português hoje é um circo!

Do ponto de vista dos jogos, realmente, há muita polêmica sobre situações reais de proteção aos grandes clubes em relação ao restante. Em partida recente, o árbitro deu 22 minutos de acréscimos até o Porto conseguir empatar com o modesto Arouca. Empatou com um gol de pênalti e com o VAR fora do ar, por falta de energia na cabine do árbitro de vídeo. A confirmação veio via ligação de celular. A cena do juiz falando ao celular dentro do gramado foi o ponto alto da situação patética de clara proteção aos grandes, Porto, Benfica e Sporting.

“A polêmica é própria da democracia, o conflito de ideias, até as mais rasas, fortalece a vida democrática”.

A outra questão é de ordem política. Cristiano Ronaldo se queixa das polêmicas extra campo, um fenômeno do futebol e da mídia esportiva que contamina a vida política do país. As discussões do futebol migraram para a política. Hoje em Portugal os políticos estão na mídia, diariamente, tratando de polêmicas criadas por eles ou criadas pela mídia especializada, imitando o padrão da mídia esportiva. Ou seja, temos o presidente da República, o primeiro ministro, líderes dos partidos de esquerda, direita e extrema direita polemizando sobre tudo.

TABELINHA COM NEYMAR: ELOGIO À DITADURA

Cristiano Ronaldo, assim como já fez Neymar, levanta a bola para o campeonato da Arábia Saudita e para aquele país. Organizado e sem polêmica. O português e o brasileiro celebram um país onde impera uma ditadura, que se espelha no próprio futebol local. Polêmica zero, debate zero, democracia zero. A ditadura ganha sozinha de goleada. Além disso, como Neymar, Cristiano Ronaldo se sente uma unanimidade, acima de qualquer crítica. Este tipo de figura pública, celebridade mediática, não gosta na verdade de qualquer polêmica, seja no futebol ou na política. Não gosta de qualquer tipo de polêmica, ama apenas a celebração ao talento individual que exibe.

A polêmica é própria da democracia, o conflito de ideias, até as mais rasas, fortalece a vida democrática. O problema é a qualidade da polêmica, se estéril e radical não soma e diminui a crença na própria democracia. Mas isso é outro jogo, o contexto das disfunções e patologias da democracia no mundo.

Sobre futebol: a seleção de Portugal vai muito bem nas eliminatórias da Eurocopa, 5 jogos, 5 vitórias. Na vitória fora de casa, contra a Eslováquia, Cristiano Ronaldo teve uma atuação discreta, levou um cartão amarelo e está fora do jogo da seleção de Portugal nesta segunda-feira (11/9). Os portugueses jogam em casa contra Luxemburgo, o país, não o Vanderlei, que também é Luxemburgo.