Os dois maiores líderes políticos do Brasil das últimas décadas, Lula e Bolsonaro, podem ter muitas qualidades de comunicação.
Os dois maiores líderes políticos do Brasil das últimas décadas, Lula e Bolsonaro, podem ter muitas qualidades de comunicação. Algumas características ou hábitos na forma de se expressar, porém, criam alguns possíveis "ruídos" ou interferências no processo de transmissão da mensagem. Entre todas as falhas que poderiam ser apontadas, uma das mais graves reside na expressão corporal. São incorreções que poderiam ter sido corrigidas há muito tempo, mas, provavelmente por falta de consciência, persistem e até têm se agravado em épocas mais recentes. Não sei o que deu na cabeça de Bolsonaro para, em determinado momento, começar a fazer discursos com as mãos nos bolsos. Essa atitude não é necessariamente um erro. Desde que se posicione assim por pouco tempo e com naturalidade, pode até, em determinadas circunstâncias, ser vista como positiva na comunicação. Não é o caso. Em várias ocasiões, o ex-presidente falou praticamente o tempo todo com a mão no bolso.
Cheguei até a dizer que esperaria para observar se ele se comportaria assim em todas as oportunidades diante do público. Se esse fato ocorresse, poderia ser uma tentativa de criar uma espécie de marca registrada na sua oratória. Há precedentes. Joaquim Nabuco, por exemplo, que pela descrição feita por Afonso Celso, na obra "Oito anos de parlamento", foi o melhor orador da nossa história, fez desse gesto um aspecto característico da sua habilidade oratória. Vejamos como o autor se referiu a ele: "A gesticulação garrida, as atitudes plásticas de Nabuco contribuíam para a grande impressão produzida pelos seus discursos. Consistia um dos seus movimentos habituais em meter as mãos nos bolsos das calças ou então enfiar dois dedos da destra na algibeira do colete. Desses e de outros gestos provinha-lhe vantajoso ar de desembaraço e petulância". Vemos assim, que determinadas posturas do orador aparentemente incorretas, em certas circunstâncias podem constituir parte relevante do seu perfil oratório. Não tem sido o caso de Bolsonaro.
Talvez ele tenha se comportado dessa forma quando estava em um período difícil da sua vida. Foi no instante em que aguardava o julgamento do processo de sua inelegibilidade. Por mais experiente e traquejado que possa ser, ele deve ter se abatido. Essa atitude é forte indício de que o orador não está à vontade. Quem sabe agora, com a situação já definida, volte a se expressar com mais segurança e desembaraço. O problema da comunicação de Lula é o excesso de movimentação no palco. O fato de o orador andar na frente do público pode ser um ótimo recurso para manter e até recuperar a atenção das pessoas. Estudos recentes mostraram que o pensamento trabalha em velocidade quatro vezes mais rápida que as palavras. Por isso, depois de aproximadamente cinco minutos, os ouvintes criam um foco de atenção viciado e não conseguem mais se concentrar no discurso. Um dos recursos para tirar os ouvintes dessa "viagem mental" é o deslocamento físico. Ao se dirigir de um lado para o outro do palco, o orador passa a ser visto e ouvido de maneira diferente. É como se outro indivíduo chegasse àquele lugar para tratar de um novo assunto.
A movimentação exagerada, entretanto, pode apresentar efeito diverso. Em certas circunstâncias, quando aquele que se apresenta em público muda de um lado para o outro, sem demonstrar objetividade, acaba por comprometer a atenção da plateia. Chega a ser visto até como sinal de ansiedade. Este tem sido o comportamento de Lula. Ele vai de uma ponta a outra do palco sem a finalidade de manter as pessoas atentas em sua fala. Anda por andar, repetindo chavões e palavras de ordem, sem concatenação lógica do raciocínio. Os discursos são tão inconsistentes que, se no final, pedirmos para alguém da plateia repetir duas ou três informações da mensagem, possivelmente, não saberá dizer. Embora esses equívocos na comunicação dos dois oradores não cheguem a destruir o resultado de suas apresentações, com certeza, não colaboram para que conquistem o sucesso que desejam.
São questões que podem ser resolvidas até com facilidade, mas, para isso, precisariam ter alguém que os orientasse. E mais importante, deveriam estar dispostos a ouvir as sugestões e a praticá-las. Com a importância política que conquistaram, não deve ser simples fazê-los ouvir esse tipo de conselho. Se não servir para eles, pelo menos são úteis para nós, pois, a partir dos deslizes que cometem, aprendemos o que pode e o que não deve ser feito para o aprimoramento da nossa comunicação. Siga pelo Instagram: @polito.