A Faixa de Gaza teve uma sexta-feira movimentada, para além dos bombardeios que se fazem presentes na região desde o dia 7 de outubro, quando grupo Hamas atacou Israel, o que resultou em uma retaliação do governo de Benjamin Netanyahu.
A Faixa de Gaza teve uma sexta-feira movimentada, para além dos bombardeios que se fazem presentes na região desde o dia 7 de outubro, quando grupo Hamas atacou Israel, o que resultou em uma retaliação do governo de Benjamin Netanyahu. Este foi o mais letal da História do país e o mais bem-sucedido da organização. Enquanto os palestinos cumpriam o ultimato dado por Israel, de deixar a região em 24 horas – o prazo acabou às 18h (horário de Brasília) – os israelenses começaram a realizar a incursão terrestre que eles prometiam desde o começo da semana. Ação foi pequena, tendo como objetivo a busca pelos reféns do Hamas, mas significativa para o contexto da guerra, que chegou ao seu sétimo dia nesta sexta-feira, 13. Estima-se que os milicianos tenham sequestrado cerca de 150 pessoas. Essa operação tem sido prepara há tempos e gera alarde na comunidade internacional, já que, caso ocorra, deve provocar um derramamento de sangue ainda maior do que os mais de 3.200 mortos que a guerra já deixou, sendo 1300 do lado de Israel, e 1.900 na Faixa de Gaza, sendo 614 crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que desde 2007 governa este paupérrimo e conturbado território 362 km².
Em meio a essas movimentações, em um raro ato, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um pronunciamento televisionado onde disse que este é apenas o começo de algo muito maior e prometeu extinguir o Hamas. “Nossos inimigos apenas começaram a pagar o preço. Não posso divulgar o que vem em seguida, mas vou dizer-lhes que isto é só o começo", declarou Netanyahu em discurso à nação. "Estamos lutando pelo nosso lar como leões", acrescentou, enfatizando que o país conta com a ajuda militar dos Estados Unidos. Netanyahu prometeu destruir o Hamas, mas adiantou que vai levar tempo, porém, garantiu que "terminaremos esta guerra mais fortes". Enquanto Israel prepara seu ataque, milhares de palestinos fugiam do norte da Faixa de Gaza, depois que o governo israelense deu um prazo para que se retirassem desta região ante a iminência de uma possível invasão do enclave, em mais uma escalada do conflito, que ameaça se tornar, segundo a ONU, uma “catástrofe humanitária”.
De acordo com a ordem israelense, cerca de 1,1 milhão de habitantes do norte de Gaza (quase metade da população do enclave) deveriam deixar “de imediato” suas casas, “para sua própria segurança e proteção”. As bombas israelenses destroem Gaza ininterruptamente desde a incursão lançada a partir deste enclave pelo movimento islamita palestino Hamas. “Vamos lutar como leões pelo nosso lar. Não vamos perdoar e não esqueceremos nunca a barbárie dos nossos inimigos e não deixaremos que ninguém no mundo se esqueça dos horrores infligidos ao povo judeu”, disse o premiê ultraconservador, que antes desta escalada bélica enfrentava um forte movimento opositor da sociedade civil israelense.
O Hamas rechaçou “a ameaça dos líderes israelense e seus apelos para os palestinos deixarem suas casas e fugirem para o sul ou para o Egito”. No entanto, a ordem de evacuação levou milhares de moradores do norte de Gaza a fugir de carro ou a pé rumo ao sul, mas sem esperanças de sair do enclave pelo lado israelense, nem pela única passagem com o Egito, reticente em ter que administrar uma crise de refugiados. Além disso, a população de Gaza está ficando sem água, alimentação e energia elétrica, devido ao “cerco total” imposto por Israel. Ainda assim, muitos moradores do enclave se negam a partir. O exílio é uma questão dolorosa em Gaza, onde mais de 80% de seus habitantes são refugiados ou descendentes de refugiados, que abandonaram seus povoados e cidades ou foram expulsos deles quando o Estado de Israel foi criado, em 1948. O presidente palestino, Mahmud Abbas, comparou o deslocamento maciço de palestinos a uma segunda Nakba (“catástrofe” em árabe), como os palestinos denominam o exílio de 760 mil pessoas durante a guerra de 1948. Seu primeiro-ministro, Mohammed Shtayyeh, acusou Israel de levar adiante um “genocídio”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para Israel “evitar uma catástrofe humanitária” e pediu um “acesso humanitário imediato a Gaza, para poder levar combustível, alimentos e água a todos que precisarem”. O presidente americano, Joe Biden, reiterou seu compromisso de dar a Israel “o que precisar para se defender e responder a estes ataques”, mas se distanciou da ira vingativa de Netanyahu. “Não podemos perder de vista o fato de que a esmagadora maioria dos palestinos não teve nada a ver com o Hamas e os ataques atrozes do Hamas e que também está sofrendo como resultado disso”, disse Biden em um discurso na Filadélfia. Anteriormente, seu secretário de Estado, Antony Blinken, havia pedido para Israel adotar “todas as precauções possíveis” para evitar a morte de civis. O ataque sangrento do Hamas contra Israel não justifica a “destruição ilimitada” do enclave palestino, advertiu, por sua vez, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Nesta sexta, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) realizou uma reunião para discutir as questões humanitárias em Gaza e os problemas ocasionado pelo conflito entre Israel e Hamas. Mas, o encontro, que foi presidido pelo Brasil, que está na presidência no mês de outubro, não chegou a um acordo. Contudo, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, em entrevista aos jornalistas ao fim da reunião, disse que o país continuará trabalhando para conseguir chegar a soluções para a região e enfatizou que o objetivo principal é “prevenir mais derramamento de sangue e garantir acesso humanitário urgente para as áreas mais atingidas. Questões humanitárias são urgentes, assim como criação de corredor para retirada de civis" e reforçou a posição brasileira sobre a necessidade de um cessar-fogo, ele também voltou a defender o apoio do país para a criação de dois Estados com fronteira acordadas, e garantiu que o país vai continuar acompanhando a situação da região e mantendo diálogo.