Rosana Leite, Coordenadora do Núcleo de Defesa das Mulheres da Defensoria Pública de Mato Grosso (Foto: Assessoria) Em entrevista ao Jornal da Cultura desta quarta-feira (29.
Em entrevista ao Jornal da Cultura desta quarta-feira (29.11), Rosana Leite, Coordenadora do Núcleo de Defesa das Mulheres da Defensoria Pública de Mato Grosso, comentou o brutal caso de feminicídio ocorrido na cidade de Sorriso (MT) nesta semana. Quatro mulheres, uma mãe e suas três filhas, foram encontradas mortas em sua residência, vítimas de um crime que destaca a vulnerabilidade enfrentada pelas mulheres dentro e fora de casa.
"Presenciamos um caso de feminicídio que chocou o estado e o Brasil. É um menosprezo à condição de mulher, uma família inteira. Chocou a todos o áudio do marido e pai relatando que não estava conseguindo contato com a família. É algo chocante e que nos mostra mais uma vez que nós mulheres estamos vulneráveis, que corremos riscos dentro e fora de casa", afirmou Rosana em entrevista aos jornalistas Antero Paes de Barros e Olímpio Vasconcelos.
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O criminoso, que era um foragido com antecedentes de violência doméstica, confessou os assassinatos às autoridades. O jornalista Antero Paes de Barros destacou que o agressor já era conhecido das autoridades, aumentando a indignação sobre a impunidade em casos semelhantes.
Rosana Leite ressaltou a sensação de desamparo da sociedade e o medo que as mulheres sentem diariamente. "As mulheres que nos procuram estão sempre com muito medo de procurar a Defensoria. De narrar uma violência dentro e fora de casa justamente porque somos vulneráveis por sermos mulheres, por tudo que já passamos, por esse mundo patriarcal e de machismo estrutural que permeia nossa sociedade".
Os números são alarmantes. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 1.437 casos de feminicídio em 2022, um aumento de 7,7% em relação ao ano anterior, seguindo a tendência observada em Mato Grosso. O estado ficou em 4º lugar no ranking nacional, com uma taxa de 2,6 casos por 100 mil habitantes.
"Os feminicídios são delitos anunciados. Desde o advento da Lei Maria da Penha que a violência dentro de casa não é algo a ser resolvido pela família, mas pelo Poder Público. Logo, o poder público tem culpa nesses casos anunciados", disse Rosana. A Coordenadora do Núcleo de Defesa das Mulheres destacou as ações propostas pela Defensoria, incluindo a criação de um comitê para a análise de feminicídios, envolvendo o Governo do Estado, Ministério Público, OAB-MT e a UFMT.
“Estamos pesquisando os 16 feminicídios que aconteceram no primeiro semestre desse ano. Vamos entregar para a sociedade um relatório sobre esses casos, para entender como estavam essas vítimas antes dos crimes. Queremos saber quais os principais erros que nos levam a esses dados”.
Rosana Leite também destacou a necessidade de mais ações e políticas públicas para combater o machismo estrutural no estado. “Mato Grosso por essas estatísticas é um estado bastante machista, patriarcal, transfóbico, homofóbico e racista. É assim que estamos sendo enxergados no Brasil por conta das estatísticas. Mas também somos referência na aplicação da Lei Maria da Penha, mas precisamos de mais ações, de mais políticas públicas, empoderar mulheres e pensar na multiplicidade delas. Se no início o feminismo pensou nas mulheres brancas, hoje nós precisamos e temos de pensar em todas”.