O mundo discute a crise climática, mas em Mato Grosso o debate promovido pelo governo do estado é uma espécie de pauta do ataque à natureza: a abertura da exploração mineral nas áreas de preservação ambiental e outros negócios de interesse de grupos econômicos.
O mundo discute a crise climática, mas em Mato Grosso o debate promovido pelo governo do estado é uma espécie de pauta do ataque à natureza: a abertura da exploração mineral nas áreas de preservação ambiental e outros negócios de interesse de grupos econômicos.
A preocupação aqui e agora em Mato Grosso: a preservação ambiental deve ser a prioridade, para entregar resultados de interesse público. Em óbvio existem efeitos em escala global, mas é necessário o esforço local para ajudar a mitigar os graves problemas que chegaram para ficar e vão piorar, se nada for feito.
Entre os efeitos da crise climática está o aumento da temperatura. Os cuiabanos e as cuiabanas sabem bem o que sofreram nos últimos dois meses. A piada de mau gosto de chamar a cidade de Cuiabrasa virou uma realidade.
Quanto maior for esse aumento da temperatura, piores serão as consequências em termos de eventos extremos, como os calorões, as estiagens e os temporais, como apontam especialistas ouvidos em reportagem da BBC Brasil.
“O Brasil tem vulnerabilidades enormes. Grande parte da nossa economia é baseada no agronegócio, que sofrerá uma queda de produtividade com a diminuição das chuvas e o aumento das secas”, destaca o físico Paulo Artaxo, professor da USP.
O Brasil já é mais propenso aos eventos extremos, porque é um país tropical, explica ele.
“Um aumento de 3ºC na Suécia pode até ser benéfico para o clima na região. Agora, 3ºC a mais para quem mora em Teresina, Cuiabá ou Palmas pode significar a diferença entre a vida e a morte”, complementa.
Como exemplo, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citam os casos de Holanda e Bangladesh — que têm boa parte do território abaixo do nível do mar — ou de Japão e Turquia — onde terremotos são frequentes (que não estão relacionados ao clima, mas são eventos que geram grandes catástrofes).
Em ambos os casos, os impactos desses eventos (inundações ou terremotos) nas nações mais ricas e com planos de contingência (caso de Holanda e Japão) costumam ser bem menores do que nos lugares mais pobres e sem uma estrutura para proteger a população (como Bangladesh e Turquia).
Vantagens estratégicas
Se, por um lado, o presente (e o futuro) do clima do Brasil gera preocupações, a boa notícia é que a missão do país de mitigar os riscos pode ser relativamente mais fácil do que a de outras nações.
“O Brasil tem uma vantagem estratégica enorme, que nenhum outro país do mundo possui: nós conseguiríamos reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa em 50%, pela metade, se parássemos o desmatamento da Amazônia”, diz Artaxo.
“E nós conseguimos fazer isso a um custo baixíssimo e num curto espaço de tempo.” O Brasil pode ser o primeiro grande país a zerar as emissões de gases do efeito estufa.
Para contextualizar, as cinco nações que jogam mais CO2 na atmosfera são China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Brasil.
Mas há uma diferença importante nesse grupo: a emissão de gases do efeito estufa dos quatro primeiros países tem a ver com a geração de energia e a queima de combustíveis fósseis (como carvão e petróleo).
Já no Brasil a maior parte das emissões está relacionada à agricultura, ao uso da terra e ao desmatamento.
Resumo da ópera ambiental em Mato Grosso: enquanto a prioridade for queimar mercúrio para explorar o ouro, o estado continuará cavando a própria cova da imagem pública do estado; colocando em risco a saúde das pessoas e enterrando qualquer possibilidade de futuro viável da economia agropastoril.