O presidente ucraniano Volodimir Zelensky revelou nesta segunda-feira que não foi informado sobre as conversas de alto nível entre os Estados Unidos e a Rússia, agendadas para terça-feira na Arábia Saudita, alertando enfaticamente que seu país não reconhecerá nenhum acordo alcançado sem sua participação direta.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky revelou nesta segunda-feira que não foi informado sobre as conversas de alto nível entre os Estados Unidos e a Rússia, agendadas para terça-feira na Arábia Saudita, alertando enfaticamente que seu país não reconhecerá nenhum acordo alcançado sem sua participação direta.
"Ucrânia não sabia de nada disso", declarou Zelensky à agência de notícias estatal Ukrinform. "E a Ucrânia considera nulos os resultados de qualquer negociação sobre a Ucrânia sem a Ucrânia. Não podemos reconhecer nenhum acordo sobre nós sem nós."
A reunião em Riad, que marca o primeiro encontro diplomático de alto nível entre autoridades americanas e russas desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, gerou tensões significativas com Kiev. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, liderará a delegação norte-americana que se reunirá com o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e outros altos funcionários do Kremlin, incluindo Yuri Ushakov, um dos principais assessores do presidente Vladimir Putin.
Embora Zelensky tenha planos de viajar para a Arábia Saudita no dia seguinte às conversas, enfatizou que sua visita foi "planejada há muito tempo" e não está relacionada com as negociações entre os EUA e a Rússia. O presidente ucraniano afirmou que pretende abordar o tema diretamente com a liderança saudita: "Evidentemente, perguntarei a Sua Alteza Mohamed (Bin Salman, o príncipe herdeiro saudita) o que ele sabe sobre isso."
"Para deixar claro, já houve conversas antes sobre isso", acrescentou Zelensky, referindo-se aos contatos prévios entre Washington e Moscou. "Só que agora está sendo tornado público. Naquele momento, considerava-se de mau gosto falar com o agressor em tempos de guerra", disse ele, referindo-se aos tempos da administração democrata.
As conversas acontecem em um momento particularmente delicado do conflito. Moscou chega à mesa de negociações fortalecido pelos recentes avanços no campo de batalha, onde suas tropas, melhor equipadas, estão fazendo com que as forças ucranianas recuem ao longo dos 1.000 quilômetros de linha de frente. Ao mesmo tempo, Kiev enfrenta a crescente incerteza sobre a continuidade da vital ajuda militar dos EUA, que tem sido criticada repetidamente pelo presidente Trump.
O Kremlin deixou claro seu objetivo de manter essas conversas em um formato estritamente bilateral com os Estados Unidos, focando em um espectro mais amplo de questões de segurança, além de um potencial cessar-fogo na Ucrânia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que as discussões incluirão a possibilidade de organizar uma cúpula entre os presidentes Trump e Putin.
A exclusão da Ucrânia dessas conversas gerou preocupação não apenas em Kiev, mas também entre os aliados europeus. Os líderes europeus se reuniram com urgência em Paris para discutir o surpreendente reaproximação diplomática de Washington com Moscou e avaliar diferentes opções para continuar apoiando a Ucrânia, incluindo a controversa proposta de um possível envio de tropas.
As perspectivas de que essas conversas resultem em um acordo de paz parecem incertas. Tanto Kiev quanto Moscou rejeitaram fazer concessões territoriais, e Putin exigiu no ano passado que a Ucrânia retire suas tropas de mais territórios no leste e sul do país como condição para qualquer negociação.
Na semana passada, Zelensky se disse disposto a se reunir diretamente com Putin, mas apenas depois que Kiev e seus aliados tenham desenvolvido uma posição comum sobre um plano para pôr fim à guerra.
No entanto, Moscou, por meio de seu ministro Lavrov, descartou a participação de outros países europeus nas conversas, questionando abertamente sua utilidade na mesa de negociações.
"Não sei o que fariam na mesa de negociações se vão se sentar à mesa de negociações com o objetivo de continuar a guerra, para que convidá-los?", declarou Lavrov em uma coletiva de imprensa em Moscou antes de partir para Riad.