O mercado financeiro reagiu negativamente à proposta de furo do teto de gastos para o pagamento do Bolsa Família e às declarações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a reação dos mercados a medidas de flexibilização fiscal.
Logo na abertura da sessão, a moeda norte-americana chegou a disparar 2,76%, a R$ 5,5308, cotação acima de R$ 5,50 pela primeira vez desde julho. O avanço foi arrefecido e o dólar era negociado a R$ 5,47 (+1,67%) no início da tarde, às 13h30.
Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, desaba mais de 2,3% nos primeiros negócios desta manhã, abaixo da marca de 108 mil pontos, o menor patamar desde o dia 29 de setembro, véspera do primeiro turno das eleições.
O mau humor dos investidores surge após Lula criticar a regra do teto de gastos públicos e questionar as reações do mercado financeiro a suas declarações. "O dólar não aumenta e a Bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia", disse o presidente eleito.
O movimento negativo também leva em conta o texto da PEC da Transição, que deve chegar à presidência do Senado com a retirada do Bolsa Família do teto de gastos para sempre. Segundo o relator-geral do Orçamento, é inviável ter que produzir uma PEC (proposta de emenda à Constituição) a cada ano para garantir o benefício às famílias.
"A PEC tem sido o principal motor do descolamento do mercado local do exterior, em meio à tentativa do governo eleito de inchar cada vez mais a peça, elevando o custo de transição e demandando um waiver quase infinito para este mandato", escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, em uma rede social.
A equipe de analistas da Terra Investimentos também cita as indefinições da proposta com pedido de R$ 175 bilhões em programas sociais fora do teto e que 40% das receitas extraordinárias sejam destinadas a investimentos. "A PEC não define prazos ou detalhamentos, que serão determinados na LOA", observam Eliz Sapucaia, Luis Eduardo Novaes e Régis Chinchila.
Diante do cenário de incertezas, Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, avalia que o Ibovespa ainda acumula a valorização de mais de 7% nos últimos 12 meses e faz um alerta: "Sabendo dessa informação, você sente mais ou menos vontade de investir na Bolsa? Se você respondeu 'mais', talvez esteja cometendo o mesmo erro de muitos investidores."
R7