Os dispositivos wireless, como roteadores Wi-Fi, celulares e laptops, usam radiação de radiofrequência (RF) para enviar e receber dados.
Os dispositivos wireless, como roteadores Wi-Fi, celulares e laptops, usam radiação de radiofrequência (RF) para enviar e receber dados. Embora a RF seja uma forma de radiação, é importante notar que ela é não ionizante, o que significa que não tem energia suficiente para ionizar átomos e moléculas ou para danificar o DNA diretamente. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou a RF como “possivelmente cancerígena para humanos” (Grupo 2B) em 2011. No entanto, essa classificação é baseada em estudos limitados em humanos e em animais, e a IARC enfatiza que “a evidência ainda é limitada” e requer mais pesquisa.
Desde então, alguns estudos grandes foram realizados. Por exemplo, um do National Toxicology Program (NTP), dos EUA, publicado em 2018, encontrou “evidência clara” de que a exposição a altos níveis de RF pode levar a tumores cardíacos em ratos. No entanto, os níveis de exposição foram muito maiores do que a exposição humana típica a dispositivos wireless. Outro grande estudo foi o COSMOS, que está acompanhando a saúde de aproximadamente 290 mil participantes via celular na Europa, por um período de 20 a 30 anos. Essa pesquisa ainda está em andamento e não publicou resultados conclusivos.
Entretanto, a opinião não é unanime entre os cientistas. Um dos estudos mais completos sobre o tema é do cientista Segiy Kyrylenko, que em 2011 publicou o artigo científico “Exposição Prolongada à Radiação de Micro-ondas Provoca Crescimento de Câncer: Evidências de Radares e Sistemas Móveis de Comunicação”, onde ovos de codorna foram posicionados sob um celular comum, em um experimento conduzido por Kyrylenko. Após três dias de exposição à radiação emitida pelo aparelho, observou-se uma aceleração notável no desenvolvimento dos ovos. No entanto, uma inversão desse fenômeno ocorreu após cinco dias, quando o desenvolvimento desacelerou. Embora Kyrylenko não sugira que esses efeitos possam ser danosos, ele enfatiza que a radiação do celular definitivamente impacta o organismo, contradizendo a ideia de que seja neutra.
No geral, a ciência atual não fornece uma resposta definitiva sobre a poluição eletromagnética e se a exposição a ondas de radiofrequência de dispositivos wireless é prejudicial à saúde humana. A maioria das organizações de saúde, incluindo a OMS, afirma que a exposição à RF de dispositivos wireless é provavelmente segura na maioria das condições normais de uso, mas que mais pesquisas são necessárias. É sempre uma boa ideia seguir as orientações de segurança do fabricante. É importante ressaltar que esta é uma área de estudo em rápida evolução, e os conselhos atuais podem mudar à medida que novas pesquisas se tornam disponíveis.
Eu particularmente sempre falo para os meus alunos nas universidades que existe a possibilidade de estarmos vivendo um momento de inovação semelhante ao surgimento dos cigarros no início do século XX. Na época, era símbolo de status fumar. Até nos filmes e propagandas víamos atrizes nos exibindo seus grandes cigarros. Nessa época, anos 20 e 30, já se questionava que aquilo faria mal à saúde. Entretanto, os advogados das indústrias do tabaco sempre negavam. Nos anos 70 e 80, aumentaram os casos de pessoas com câncer do grupo de fumantes. Então, por não conseguir mais “abafar o caso”, intensificaram-se os estudos, tornando comprovado a relação entre o câncer e o tabaco.
Nos anos 90, começaram as campanhas antitabaco. Acontece que entre 1920 e 1990 se passaram 70 anos de lucros gigantescos para indústria do tabaco. Especula-se que algo semelhante possa acontecer com a indústria das redes eletromagnéticas como de celulares e wireless (Wi-Fi). Ainda não é vantajoso (comercialmente) qualquer comprovação que celulares e redes sem fio façam mal à saúde. Contudo, quando não for mais possível abafar os casos devido a anos de intoxicação por energia eletromagnética, serão feitos (ou autorizados a publicação de) estudos que comprovem o mal que esses dispositivos fazem para a saúde — até lá, muitos da nossa geração (dependentes de celulares e Wi-Fi) já teremos morrido.
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