O vinho sempre sofreu o preconceito de ser uma bebida de elites, entretanto o maior injustiçado sempre foi, sem sombras de dúvidas, o whisky.
O vinho sempre sofreu o preconceito de ser uma bebida de elites, entretanto o maior injustiçado sempre foi, sem sombras de dúvidas, o whisky. Na matéria da semana passada, desta coluna, esbarrei, de leve, neste destilado, de origem escocesa, tão maravilhoso, e resolvi, face ao interesse dos leitores, convidar Tierri Gabriel, empresário da área de TI voltada para a saúde, e uma das maiores autoridades do Brasil quando o tema é whisky (https://www.youtube.com/@tierri), para trazer um pouco de luzes sobre o panorama do consumo de whiskies por aqui. Segue abaixo o saboroso texto do mestre Tierri. Salut!
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Quão caro é consumir bons whiskies? Muitas pessoas veem o whisky como sendo uma bebida elitizada, de paladar forte e de preço elevado. Entretanto, afirmo que, tal qual no mundo do vinho, o whisky, pode ser uma experiência agradável, elegante e, sim, acessível! Não é preciso gastar muito para ter acesso a whiskies incríveis. Por exemplo, em 2008 o whisky Ardbeg 10 anos, um single malt escocês, foi eleito o melhor do planeta pela bíblia de Jim Murray (uma referência no mundo do whisky) e, atualmente, ele é vendido no Brasil por plausíveis R$ 699,00. Repito: o melhor do planeta. Outro whisky díspar e muito requisitado é o Laphroaig 10 anos. Trata-se, também, de um single malt escocês, com sabor defumado e que foi eleito o melhor whisky do mundo até 12 anos. Atualmente, é importado oficialmente para o Brasil na faixa dos R$ 499,00. Mas, se a preferência for um whisky americano, recentemente tivemos o lançamento do Bourbon Eagle Rare, que ganhou 90 prêmios nos últimos 14 anos e também atingiu o marco de cinco medalhas duplo ouro consecutivas no famoso concurso San Francisco World Spirits Competition (SFWSC). Seu custo é de aproximadamente R$ 250,00. Acrescente aos dados acima, o fato de que uma garrafa de whisky, quando degustada conscientemente, durará meses, diferentemente de uma garrafa de vinho que, ao ser aberta, deve ser consumida por inteiro. (Desculpe amigo Esper, mas beber whisky em alto nível é mais acessível que vinho; por essa você não esperava!)
Como o objetivo desse texto é informar e impactar um pouco, reviro meu baú de fatos e lhes trago mais duas curiosidades sobre o mundo do whisky. A primeira delas é que o whisky não é tão alcoólico como as pessoas pensam. Na verdade, bons whiskies não agridem com a presença do álcool. Isso ocorre devido às modificações moleculares ocorridas durante a maturação nos diferentes barris utilizados. Nesse processo há a geração de diversos congêneres, cujos sabores, em seu conjunto, sobrepujam o do álcool. Ou seja, o álcool não deixa de existir, mas a sua percepção deixa de se sobressair. Mas, se o seu whisky de escolha não conversa bem contigo e insiste em ser alcoólico, experimente bebê-lo com um pouco de água (faça uma rápida conta e dilua sua dose de whisky até o mesmo chegar aos 34% de teor alcoólico). Acredite ou não, o whisky foi feito para ser bebido com água e não com gelo. A água adicionada ao whisky, promove interações químicas que liberam congêneres da bebida, possibilitando uma maior percepção dos aromas e, claro, provocará uma pequena diluição do álcool. Isso "abrirá" seu whisky e o deixará mais manso!
Para finalizar, uma segunda curiosidade é que, no geral, aquele blended whisky que você vê em muitas propagandas e nas prateleiras do supermercado, é basicamente uma mistura de destilados: um pouco de ótimos destilados, completados, no seu volume, com destilados não tão ótimos assim. Ou seja, o blended whisky tem em sua composição um pequeno percentual de single malt, que é responsável pelos sabores mais expressivos e nobres do whisky. No mais, sua composição leva destilados de grãos, feitos no geral em alambiques de coluna, algo que no Brasil chamamos de álcool de cereais, o que diminui o custo da produção para a indústria, aumentando muito o lucro, além de abrandar o ímpeto do single malt.