As lideranças do Palácio do Planalto enfrentam resistências para colocar em discussão pautas de interesse do Executivo no plenário do Congresso Nacional.
As lideranças do Palácio do Planalto enfrentam resistências para colocar em discussão pautas de interesse do Executivo no plenário do Congresso Nacional. Prova disso foi o adiamento da votação do Projeto de Lei 4.173/2023, que tem relatoria do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ). O texto, que prevê a taxação dos chamados “super-ricos”, além dos fundos de offshores e fundos exclusivos, chegou a ser incluído na pauta para votação na última terça-feira, 17, pelo presidente interino da Câmara dos Deputados, Marcos Pereira (Republicanos-SP). A movimentação anteciparia em uma semana o acordo firmado entre os líderes para votação da matéria, mas não foi aceita pelos caciques partidários e aliados de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa que segue em viagem à China. À primeira vista, o recuo de Marcos Pereira sobre a votação é visto como “corriqueiro” e fruto do consenso das lideranças. Entretanto, nos bastidores, a desistência expõe, mais uma vez, as dificuldades do governo para consolidar a tão almejada base governista, e as pressões da velha política do “toma lá, dá cá”, calcada nas indicações de cargos.
Desde o início do segundo semestre do Legislativo, o governo Lula 3 patina para emplacar projetos. Diferente dos primeiros seis meses da política neste ano, marcado pela aprovação de matérias como a lei do Carf, o arcabouço fiscal e a reforma tributária, desta vez, a equipe do ministro Fernando Haddad (PT) encontra entraves para emplacar suas prioridades. Interlocutores ouvidos pelo site da Jovem Pan afirmam que três motivos dificultam o avanço das pautas, especialmente na Câmara: lobby dos setores, rusgas na comunicação governo-base e, a mais importante, a vontade política de Arthur Lira. Aliados do político alagoano ouvidos pela reportagem afirmam que a votação do PL 4.173/2023 na última terça não aconteceu por “ordem de Lira”. A decisão de segurar a apreciação da matéria, considerada uma das prioridades da Fazenda, é consequência das negociações de cargos com o Centrão e busca pressionar a nomeação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do novo presidente da Caixa Econômica Federal. A indicação integra o pacote de acordos da reforma ministerial e o cotado para o cargo é o servidor de carreira Carlos Antônio Vieira Fernandes, aliado de Arthur.
“O governo assume um compromisso e depois não cumpre, era melhor não ter assumido o compromisso”, disse um aliado de Lira à reportagem. Quanto ao lobby, a avaliação é que setores como o agronegócio e grupos imobiliários pressionam, por meio de seus representantes no Congresso Nacional, para que a votação não aconteça, já que a taxação de alguns fundos seria um revés para determinados segmentos econômicos. “Há setores que têm se movimentado para atrapalhar essa votação”, admite, sob reserva, outro parlamentar. Ainda que as discordâncias existam, há congressistas que acreditam ser possível chegar a um consenso, especialmente quanto à cobrança do imposto. Inicialmente, a proposta do ministro Fernando Haddad propunha tributação da 10%, considerada absurda por uma ala de parlamentares. No entanto, a alternativa do relator de estabelecer alíquota de 6% é considerável “aceitável”, como define o deputado Claudio Cajado (PP-BA). “Há caminhos, sim, para resolver as discordâncias”, completa.
No que diz respeito à entrega de votos pró-governo, ainda que preocupem, as inconsistências da base governista são vistas como o entrave mais fácil de resolver. “Arthur Lira pode chegar semana que vem e aprovar no modo Lira, que já conhecemos. Os líderes fazem o que ele quer, então vai aprovar”, reforça um aliado ao site da Jovem Pan. À reportagem, o deputado federal José Nelto (PP-GO) endossa a ideia de que “Lira é a governabilidade do governo”, mas lembra que, ainda que o PL dos “super-ricos” seja aprovado na Câmara e a reforma tributária no Senado Federal, por exemplo, dificilmente o governo Lula vai terminar o ano com a aprovação de todas as prioridades do semestre. “Nem tudo que o governo quer o Congresso entrega. O Orçamento pode ficar para o ano que vem. Agora, o governo tem que fazer política, tem que ouvir as bancadas. Não é troca de ministro que vai resolver, até porque ministro atende ele próprio, não a bancada. Do jeito que está indo, não vota nada. É uma agenda tartaruga”, concluiu.