Ao assinar os papéis, depois de serem declarados casados em nome da lei, um casal só pode ser desfeito com outra assinatura: a do divórcio. O termo, que chega a arrepiar quem já passou pelo processo, carrega um peso de sofrimento entre as partes, que encontram ali uma opção de mudança, traduzida em arrependimento.
Segundo a Associação dos Notários e Registradores (Anoreg-MT), Mato Grosso possui uma média de um divórcio para cada 10 casamentos. Somente este ano, até o final do mês de outubro, 1.133 divórcios foram registrados nos cartórios do Estado. Desde 2020, o número total de separações é de 5.415, enquanto houve 60.941 casamentos oficializados nos cartórios mato-grossenses no mesmo período.
De acordo com Stela Velter, advogada familiarista e diretora da Comissão de Sucessões do Instituto Brasileiro de Direito da Família de Mato Grosso (IBDFAM/MT), a traição é o motivo mais recorrente dos divórcios nos útlimos anos, bem como problemas financeiros – sejam dívidas ou discordância no emprego dos investimentos.
Ela ressalta que o crescimento do papel da mulher em sociedade também tem contribuído para esse cenário.
"A conquista da independência pela mulher e a não submissão dela a algumas coisas, as quais ela se via obrigada a se submeter. Por exemplo, quando ela trabalhava fora e ganhava a sua renda, sua renda sempre era dedicada para a casa e a do marido, não", conta.
A dor da separação
A vida a dois sempre exige honestidade e ajuda mútua para que a relação se mantenha firme. No caso de Carla* (nome fictício), o caminho para viver bem após a separação teve de ser percorrido com o perdão. Divorciada desde 2014, a separação veio após conhecer uma pessoa em uma viagem, mesmo com 18 anos de casado.
"O meu relacionamento tinha seus desgastes e o mito da grama mais verde apareceu e, como escamas, me cegou", explica.
Mesmo com o processo no cartório sendo rápido – aproximadamente seis meses -, Carla reconhece que poderia ter pedido ajuda para que o relacionamento fosse salvo. Porém, após se envolver com a pessoa da viagem e perceber que ainda amava o ex-marido, não tinha mais o que ser feito.
"Depois de seis meses da separação a ficha caiu, eu vi que o amava e queria retornar, mas já era tarde demais. Eu corri, voltei, pedi perdão, mas ele só me perdoou quando já estava comprometido com outra pessoa e eu estava sozinha", conta.
Hoje, ambos possuem novas famílias e conseguem conviver bem, algo necessário em razão da filha que foi gerada no casamento.
Para Stela Velter, mesmo atuando há 27 anos na área de divórcios, é muito difícil que os casais que reencontrem o amor que os uniu.
"O amor vai se desgastando e eles não conseguem mais admirar a pessoa. Se restou alguma coisa do amor que eles já sentiram, eles não conseguem encontrar no meio daquelas decepções que aconteceram, daquela raiva que, por algum motivo, levou a briga. Se foi pela traição principalmente, porque aí a raiva é maior e o sentimento de vingança também", explica.
O processo de separação, em Mato Grosso, é disponibilizado nos cartórios e não há necessidade entrar com ação na justiça. Além disso, o acompanhamento de um advogado é obrigatório.
*Nome fictício usado para proteger a identidade da personagem.
RD NEWS