O PIB do agronegócio caiu 0,94% neste ano, em comparação com 2022.
O PIB do agronegócio caiu 0,94% neste ano, em comparação com 2022. É o que mostra o balanço da Confederação Nacional da Agricultura, divulgado nesta quarta-feira, 6. O que mais impactou o resultado, segundo a CNA, foram os preços em todos os segmentos do setor, principalmente dos insumos. Os custos de produção acima do esperado e a queda nos preços das commodities também provocaram o efeito “safra cheia, bolso vazio”, já que a maioria dos produtores rurais viu parte dos lucros derreter neste ano. O levantamento mostra que, apesar da safra recorde de grãos de 322 milhões de toneladas em 2022/23, no caso da soja, por exemplo, a margem bruta diminuiu 68% em comparação com a produção anterior.
Para o milho, o cenário foi ainda mais desafiador: os produtores tiveram de encarar uma queda de 134% na margem de lucros. Na pecuária de leite, o impacto também foi sentido. Com a retração de preços maior do que a de custos, a margem de lucro dos produtores foi 67,4% menor em outubro de 2023, em relação ao mesmo período de 2022. Na pecuária de corte, o sistema de ciclo completo foi o que sofreu maior impacto na margem bruta com queda de 48,7%. Além dos custos, outra situação atrapalhou o desempenho do produtor brasileiro: a insegurança jurídica. É o que explica o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi. “As invasões de propriedades voltaram com muito mais força neste ano. Isso gera insegurança jurídica e agrava a queda no lucro e, consequentemente, os investimentos da porteira para dentro.”
O diretor técnico da CNA também ressalta os impactos provocados pela indefinição em torno do Marco Temporal. “Com a decisão do Supremo Tribunal Federal, nós tivemos o acirramento de alguns conflitos fundiários e isso impede que o produtor continue produzindo, porque ele não sabe se continuará naquela área ou não. A gente espera que os vetos do presidente [Luis Inácio Lula da Silva] sejam derrubados para que se tenha algo claro e factível para toda a produção rural”, destacou.
O Brasil deve fechar o ano de 2023 com recorde nas exportações do agro, mas em rítmo de crescimento menor do que no ano anterior. Até outubro, foram exportados US$ 139,6 bilhões, crescimento de 3% em relação ao mesmo período de 2022. A expectativa é que o valor chegue a US$ 164 bilhões até o fim do ano, principalmente pela maior participação da China e da Argentina nas compras de soja.
Para o ano que vem, a CNA estima resultado neutro ou nova queda de até 2% no PIB do agronegócio. Esse resultado vai depender da relação entre preços de produtos e custos de produção nos diferentes segmentos, da retomada da agroindústria e dos efeitos do El Niño sobre a produtividade do Brasil. Esse fenômeno, que provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, deve influenciar no regime de chuvas em boa parte do ano que vem. No cenário político, a preocupação envolve a incerteza sobre o cumprimento da meta fiscal e a aprovação da reforma tributária. O impasse em torno do acordo Mercosul-União Europeia também deve se manter, por causa das exigências ambientais feitas pelo bloco europeu.
“O que alguns governos europeus querem é que a gente seja submisso para asfixiar qualquer possibilidade de negociação”, afirma João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura. Além disso, é possível que os acordos em negociação com a Coreia do Sul e o Canadá encontrem entraves no bloco sul-americano.