Um dos principais propulsores na economia brasileira, o agronegócio é um setor extremamente relevante para o país. Após resultados históricos dos últimos dois anos, a expectativa é que o setor continue crescendo a um ritmo estável e se mantendo competitivo nos próximos anos. Contudo, analistas apontam desafios em termos de infraestrutura e abastecimento. Para este ano, o agro mantém boas perspectivas de contribuição para a economia e para a sociedade brasileira, indica Gislaine Balbinot, diretora-executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Mesmo o PIB do setor tendo registrado queda no primeiro semestre, devido à alta dos custos de produção na agropecuária e de insumos na agroindústria e ao atraso da colheita em 2021, a CNA estima que pode haver um crescimento de 2,8% no PIB neste ano. Nas exportações, o alto patamar de preços mundiais está beneficiando o setor. De acordo com o Ministério da Agricultura, em setembro, as exportações totalizaram US$ 13,97 bilhões, um valor recorde para os meses de setembro. Além do aumento dos preços, que subiu 17,2% na comparação entre setembro de 2022 e setembro de 2021, a quantidade exportada cresceu 18,1%. De janeiro a setembro de 2022, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 122,07 bilhões — incremento de 30,5% na comparação com o mesmo período em 2021. Segundo o Ipea, em 2023 espera-se um crescimento de mais de 10% para o PIB Agropecuário”, revela.
Head de crédito da Vectis Gestão, Mucio Mattos também considera que o agronegócio passa por um excelente momento, e as perspectivas permanecem positivas. “Fatores como o crescimento populacional, aumento do nível de urbanização e maior consumo de proteínas animais continuam sustentando a demanda da produção agrícola mundial. Do lado local, o setor também será beneficiado pelo aumento da oferta de crédito de longo prazo com o advento dos Fiagros, que, mesmo em um curto espaço de tempo, já teve uma ótima aderência e conta com mais de 25 fundos listados e R$4,6 bilhões de reais de patrimônio”, revela. Analista de renda fixa da Arton Advisors, Tarik Thome complementa que houve uma mudança de visão em relação ao produtor rural, que gerou uma profissionalização do setor e acesso a novas formas de financiamento. “Você já vê empresas que eram consideradas pequenas, familiares, emitindo Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Com isso, o agronegócio deve continuar crescendo de forma mais sustentável conforme for aumentando sua produtividade. Para o curto prazo, temos um desafio no cenário macroeconômico com a guerra entre Ucrância e Rússia e as tensões na China. Já no longo prazo, ainda precisamos amadurecer o setor, investir em infraestrutura e tecnologia. Temos um gargalo na logística, que interfere no custo de produção”, analisa.
Sócia da DATAGRO, Carolina Troster afirma que, para se manter competitivo, o setor deve investir mais em pesquisa, tecnologia e logística. “O Brasil é mundialmente reconhecido por contar com um setor agropecuário bastante competitivo da porteira para dentro. Mas as péssimas condições das estradas e uma malha ferroviária de tamanho ainda modesto com relação às de China e EUA são alguns dos desafios do setor. O custo de transporte do produto agrícola, da fazenda até o porto, chega a ser responsável por 20% a 30% do aumento do preço final para exportação. Ou seja, o Brasil tem que intensificar o investimento em logística para conseguir acompanhar o aumento de produção, que deve ser de até 30% nos próximos 10 anos, conforme projeção do MAPA. Por último, outro problema que vale destaque é a infraestrutura de armazenagem. Em média, o setor brasileiro consegue armazenar, no máximo, 80% da produção, enquanto nos EUA essa média é de 150%, o que exige do produtor brasileiro a necessidade de escoar o produto com mais frequência, pressionando o preço do produto e elevando a demanda por frete rodoviário. O futuro do agro está ligado ao futuro da transição energética no Brasil e no mundo, com os biocombustíveis desempenhando um importante papel nas metas de descarbonização do setor de transportes”, aponta.
Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Economia, Rogério Boueri aponta que o Brasil precisará superar alguns desafios como a diminuição do comércio. “O agronegócio brasileiro se desenvolve a partir das relações comerciais com outros países e temos visto uma série de impostos de importação de produto afora, além de problemas de insegurança alimentar que começam a fechar os mercados. Precisamos continuar nessa tendência de financiamento privado e estimular o livre comércio. Não é só querer vender, tem que poder comprar do mundo. A abertura do mercado de capitais para agro e novas operações como o Fiagro e os CRAs são medidas boas para todo mundo. Precisamos abrir esses canais”, indica. Outro desafio, de acordo com Ricardo Nicodemos, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), é melhorar a imagem do agronegócio. “Precisamos contar histórias e fazer com que o brasileiro tenha admiração pelo setor. Precisamos que o agro seja uma paixão nacional como o Carnaval ou o futebol. Ao longo de 50 anos, o agro renegou a comunicação, deixou de contar suas conquistas e empreendedorismo. Quando você não conta sua história, alguém conta por você e da maneira que achar mais conveniente. Precisamos retomar nosso protagonismo”, defende.
Para Otto Schumacher, diretor da MCassab Nutrição e Saúde Animal, o país deve continuar abrindo mercados, a despeito da incerteza e da inflação. “O Brasil exporta para mais de 150 países, e isso não muda. Independentemente da situação de mercado, vamos bater recorde de safra, superando os R$ 300 milhões. A inflação e a renda acabam mudando o perfil do consumidor e preocupam o setor. Mas quando olhamos para o mercado externo, temos 1 bilhão de pessoas subindo em capacidade de renda e consumo. Tem um mercado enorme e continuamos com otimismo para o cenário futuro. O mercado vai continuar se expandindo, por isso que a gente investe, trazendo tecnologia e buscando ganhar produtividade. Nosso grande desafio é a questão inflacionária, que pode aumentar custos de produção, e a seguridade sanitária”, pondera.