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Investigadores infiltrados na Deep Web: como a polícia de SP "caça" os predadores online

No Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no centro da capital paulista, uma cena inusitada chama a atenção: uma brinquedoteca com adesivos coloridos nas paredes e ursinhos de pelúcia.

Por Comando da Notícia

20/05/2024 às 14:45:40 - Atualizado há
Foto: Revista Home Theater & Casa Digital

No Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no centro da capital paulista, uma cena inusitada chama a atenção: uma brinquedoteca com adesivos coloridos nas paredes e ursinhos de pelúcia. Por trás dessa aparente inocência, está a atuação incansável da 4ª Delegacia de Repressão à Pedofilia, onde uma equipe de investigadores trabalha na árdua missão de capturar criminosos que têm como alvo crianças e adolescentes.

O foco do trabalho de investigação é quase todo voltado para o mundo virtual, onde infratores aproveitam-se do aparente anonimato da internet para consumir conteúdo pornográfico infantil e aliciar menores de idade. Segundo a investigadora Ana Paula Ferraz Gandolfi, de 41 anos, a delegacia atua principalmente na busca por crimes digitais, como troca de fotos, vídeos e identificação de produtores de conteúdo ilegal.

Além de combater a produção e o consumo de pornografia infantil, os policiais enfrentam uma modalidade criminosa ainda mais perturbadora: o “estupro virtual”. Nesse crime, os aliciadores se passam por crianças ou adolescentes para ganhar a confiança das vítimas nas redes sociais, induzindo-as a produzir imagens comprometedoras e, posteriormente, ameaçando-as caso se recusem a cumprir suas exigências.

O investigador Alexandre Scaramella, de 51 anos, destaca que muitas vítimas acabam sob pressão por meses, o que altera seu comportamento e pode alertar os pais para o problema. “A criança, depois de uns 3 meses passando por essa situação, está tão esgotada, que não aguenta mais. Com isso, os pais começam a notar a mudança de comportamento e aí, na primeira oportunidade, vão olhar os celulares dos filhos para tentar entender o que está acontecendo. É nesta hora que os pais descobrem que os filhos estão sofrendo abuso”, explica.

Além do monitoramento nas redes sociais, a Polícia Civil conta com a infiltração em grupos da Deep Web, onde criminosos vendem e compartilham cenas de abuso. A infiltração é autorizada pela lei nº 14.332 e permite que os policiais coletem provas para o indiciamento dos criminosos. Essa estratégia tem sido eficaz na identificação dos modus operandi desses criminosos, bem como na identificação de símbolos e tatuagens utilizados por eles.

Dois dos policiais que se destacam nessa luta são o investigador Jorge André Domingues Barreto, de 39 anos, e o perito criminal Hericson dos Santos, de 42 anos. Após realizarem um curso patrocinado pela Homeland Security Investigations (HSI), em 2016, os dois se tornaram referência no combate à pedofilia e crimes virtuais, sendo chamados inclusive para ministrar cursos para policiais do Brasil e do exterior.

Uma das maiores ações promovidas pela Polícia Civil nesse combate é a Operação Luz na Infância, que já cumpriu 1929 mandados e prendeu 718 criminosos em flagrante no Brasil e em outros países. “A Luz da Infância foi originada de policiais de São Paulo, e foi a maior operação do mundo de combate à pedofilia em um único dia. Fizemos 250 prisões em um dia”, destaca Hericson.

Apesar dos desafios e das histórias difíceis que encontram pelo caminho, os policiais permanecem dedicados à missão de proteger as crianças e adolescentes contra esses crimes hediondos. O investigador Jorge André lembra do caso de uma vítima que, décadas após sofrer abuso, ainda encontra no policial uma fonte de apoio e gratidão. Essa é a motivação que impulsiona esses verdadeiros heróis na luta contra a pedofilia e a criminalidade virtual.

Assim que são autorizados pelo Poder Judiciário, os policiais civis podem entrar na casa dos suspeitos e apreender equipamentos como celulares, notebooks e computadores. A parte de perícia fica por conta dos agentes da Polícia Técnico-Científica, que irão analisar o conteúdo e produzir um relatório, explicando quais crimes estão sendo cometidos e qual é a participação dos acusados nos delitos. Um exemplo dessas duas áreas, investigação e análise pericial, pode ser encontrado em uma ação realizada na região metropolitana de São Paulo, em que um homem estava sendo investigado por armazenamento de conteúdo pornográfico infantil. Um dos investigadores tirou uma foto para divulgação da operação. Durante a análise do computador do homem, os peritos encontraram um vídeo mostrando o abuso contra uma vítima, que segurava um urso de pelúcia na mão. O ursinho e a parede do local eram os mesmos que apareciam na imagem registrada pelos policiais no quarto do acusado. "Neste caso você fez uma prova de que o estupro acontecia nesse local. Essa é a importância de treinar as equipes, o investigador simplesmente tirou a foto e depois o perito encontrou o material de abuso com uma criança. Passou do armazenamento de conteúdo para estupro de vulnerável. Você parte de um cara que poderia simplesmente pagar fiança e estar na rua, mas de fato ele responderá por estupro", explica o perito. Mesmo após tantas investigações e prisões importantes, há casos que ainda marcam os policiais. O investigador Jorge André lembra o caso de um dirigente de ensino que abusou sexualmente de duas irmãs 30 anos atrás. Na época, ninguém acreditou nas vítimas. Após a prisão do homem, décadas mais tarde, uma das irmãs conseguiu o número de celular do investigador. Até hoje, todos os domingos, ela liga para ele e lê um trecho da Bíblia, como uma forma de agradecer pelo trabalho do policial. "Quando teve a prisão, ela disse: 'Estou ligando para agradecer, porque achava que eu era o problema nessa sociedade, não essas pessoas", lembra Jorge André. *Com informações da SSP
Fonte: GAZETA BRASIL
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