Um terremoto mudou o curso do Rio Ganges: Pode acontecer novamente? Um estudo recente publicado na revista Nature Communications revelou que um terremoto há 2.500 anos provocou uma das maiores mudanças de curso do rio Ganges, no que hoje é Bangladesh. Essa descoberta surpreendente sugere que a região, densamente povoada, permanece vulnerável a grandes terremotos que poderiam ter efeitos cascata devastadores. Os cientistas, liderados por Liz Chamberlain da Universidade de Wageningen, na Holanda, identificaram evidências de que o terremoto provocou uma avulsão significativa no rio Ganges, deslocando seu canal principal abruptamente.
Avulsões, mudanças repentinas no curso dos rios, são conhecidas por ocorrerem por diversos motivos, mas a influência direta de terremotos dessa magnitude era até então pouco documentada. Localizado nos Himalaias, o Ganges percorre aproximadamente 2.570 quilômetros, formando junto com rios como o Brahmaputra e o Meghna um intrincado sistema de vias navegáveis que desaguam no Golfo de Bengala, entre Bangladesh e Índia. Este sistema é o segundo maior do mundo em termos de volume de água, depois do Amazonas. A mudança de curso do Ganges não é um fenômeno incomum em deltas como este. Normalmente, as mudanças ocorrem gradualmente ao longo de anos ou décadas devido ao acúmulo de sedimentos e às cheias periódicas.
No entanto, avulsões desencadeadas por terremotos podem ocorrer de forma quase instantânea, como foi o caso observado pelo estudo. Os pesquisadores detectaram sinais visíveis da antiga rota principal do rio, aproximadamente 100 quilômetros ao sul da capital de Bangladesh, Dhaka. Áreas baixas e propensas a inundação, como essa, são usadas principalmente para o cultivo de arroz e representam um desafio constante para os moradores locais. Além do impacto imediato, estudos recentes sugerem que a região continua vulnerável a terremotos de magnitude semelhante, que poderiam afetar severamente até 140 milhões de pessoas.
Esses eventos têm implicações de longo prazo não apenas para a geografia física, mas também para a economia, sociedade e política das áreas afetadas. Este estudo destaca a importância de monitorar áreas de deltas tectonicamente ativas, como o Ganges, o Rio Amarelo na China e o Irrawaddy em Mianmar, para entender melhor os riscos e implementar medidas preventivas em face de futuros eventos sísmicos potencialmente devastadores.
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