Gisèle Pélicot, uma francesa que foi drogada pelo marido durante 10 anos para que fosse abusada sexualmente por estranhos, contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis como consequência dos estupros.
Gisèle Pélicot, uma francesa que foi drogada pelo marido durante 10 anos para que fosse abusada sexualmente por estranhos, contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis como consequência dos estupros.
A informação foi revelada pela perita responsável pela avaliação clínica e ginecológica dela durante o julgamento de Dominique Pélicot, ex-marido da vítima, e outros 50 homens, acusados de serem os autores dos abusos.
A médica afirmou que, apesar de ter escapado da contaminação pelo HIV e pelas hepatites B e C, Gisèle precisou de tratamento com antibióticos para combater as infecções, incluindo uma aplicação intramuscular.
A perita, que acompanha Gisèle desde 2020, dois meses após a revelação do caso, destacou o sofrimento vivido por ela ao longo dos anos, ressaltando que a vítima também enfrenta o impacto psicológico sobre seus filhos e se preocupa com as consequências em sua relação com a filha.
Nesta sexta-feira (6), Caroline, filha do casal, deu seu depoimento, emocionada ao lembrar que o pai tinha fotos suas nua. Em seu testemunho, ela afirmou que ele é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos” e relembrou o momento em que soube dos crimes: sua mãe revelou que passara o dia na delegacia após descobrir que Dominique a drogava para ser abusada por estranhos. Caroline descreveu o choque e a dor que ela e seus irmãos sentiram ao saber da situação.
Em 2022, Caroline lançou um livro intitulado “Et j’ai cessé de t’appeler papa” (“Deixei de te chamar de pai”, em tradução livre), no qual relata a decepção com o pai, que ela acreditava ser um homem íntegro, mas que a fotografou nua sem o seu conhecimento. Na mesma sessão de julgamento, a nora de Dominique também testemunhou, relatando que fotos suas foram tiradas durante o banho sem sua autorização. Ela expressou preocupação com os possíveis crimes que o acusado poderia ter cometido contra os netos, com quem passava muito tempo a sós.
Gisèle, pela primeira vez, falou em juízo sobre os abusos que sofreu, descrevendo os vídeos gravados pelos abusadores como “cenas de estupro”, e não de sexo, ressaltando o estado de vulnerabilidade em que se encontrava, drogada e inconsciente. Segundo ela, os homens aproveitavam-se de seu corpo, contaminando-a e maltratando-a.
Além de Dominique, que confessou ser culpado e pode pegar até 20 anos de prisão, outros 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, estão sendo julgados. Dezoito deles estão presos preventivamente. Na terça-feira, 35 réus se declararam inocentes e 13 admitiram culpa. Um dos acusados está foragido e outro não compareceu ao tribunal. Gisèle, ao comentar sobre os 35 que negam envolvimento, criticou o fato de nenhum deles ter denunciado o que ela vinha sofrendo.
A decisão de tornar o caso público foi de Gisèle, que abriu mão de seu anonimato para evitar que algo semelhante aconteça com outras pessoas. Ela também rejeitou a ideia de um julgamento a portas fechadas, pois acreditava que era o que seus agressores desejavam.
O caso veio à tona em 19 de setembro de 2020, quando Dominique foi flagrado filmando por baixo das saias de mulheres em um supermercado. Ao ser levada à delegacia para depor, Gisèle foi confrontada com uma das imagens encontradas no computador do marido, revelando os abusos. Ela expressou repulsa pelo que descobriu, lamentando que, apesar dos altos e baixos em 50 anos de casamento, sempre manteve o apoio ao marido.
Os acusados, que variam de perfis sociais, alegaram que não pagavam para participar dos abusos e que acreditavam estar participando das fantasias do casal. Contudo, a investigação revelou que cada um dos envolvidos tinha plena consciência da situação e poderia ter parado ao perceber o que estava acontecendo. Ao longo da investigação, foram identificados 92 estupros cometidos desde 2011, com maior frequência a partir de 2013, quando o casal se mudou para Mazan.
Dominique administrava à esposa um ansiolítico potente e dava instruções para que os abusadores não a acordassem. Ele também orientava os homens a não usar perfume ou tabaco, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha para evitar que qualquer evidência fosse deixada no quarto.