O risco de desenvolver demência pode começar a se acumular ainda na infância, alertam especialistas. Índice de massa corporal (IMC), pressão arterial e níveis de atividade física de uma criança foram ligados a mudanças no cérebro aos 20 anos, especialmente em áreas associadas à demência.
Embora seja sabido que a saúde na meia-idade pode ser um indicador para demência mais tarde, os pesquisadores não haviam investigado o impacto desde a infância. Em um novo estudo, publicado na revista eBioMedicine, os pesquisadores sugerem que ter uma saúde precária na infância e adolescência pode predispor a um declínio posterior na saúde cerebral.
A equipe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, em colaboração com a University College London, analisou dados de 860 pessoas participantes do estudo Avon Longitudinal Study of Parents and Children. Este estudo acompanha dados de saúde ao longo do tempo.
Os acadêmicos examinaram a pressão arterial e IMC de crianças de 7 a 17 anos, seus níveis de atividade física dos 11 aos 15 anos, e exames de cérebro na idade adulta jovem, aos 20 anos. Eles encontraram que marcadores de saúde cardiovascular mais pobre – como pressão arterial mais alta na infância e crescimento acelerado do IMC na adolescência – estavam associados a diferenças na estrutura da massa cinzenta do cérebro.
As ligações foram particularmente evidentes em regiões cerebrais conhecidas por serem afetadas pela demência na velhice. Estudos anteriores já haviam mostrado conexões semelhantes entre saúde cardiovascular e saúde cerebral em pacientes mais velhos com dificuldades de memória e demência.
Os pesquisadores afirmam que suas descobertas fornecem “evidências preliminares” de que riscos de demência podem ser identificados e mitigados mais cedo na vida. Eles chamam por mais estudos para explorar essa descoberta e sugerem que isso pode ter implicações no momento de aplicar “medidas preventivas”.
“Nossa pesquisa mostra que a saúde cardiovascular nas primeiras fases da vida pode ser importante para a estrutura de regiões cerebrais conhecidas por serem afetadas pela demência na velhice – muito antes do que se pensava anteriormente”, disse Holly Haines, autora principal do estudo.
A coautora do estudo, a professora associada Sana Suri, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, acrescentou: “Os achados sugerem que devemos considerar fatores de risco modificáveis, como obesidade e exercício, décadas antes dos modelos atuais de expectativa de vida para demência.”
David Thomas, chefe de políticas e assuntos públicos da Alzheimer’s Research UK, destacou que até 45% dos casos de demência podem ser prevenidos evitando fatores de risco influenciáveis, como inatividade física e tabagismo.
Dr. Richard Oakley, diretor associado de pesquisa e inovação da Alzheimer’s Society, apontou limitações no estudo, como a predominância de participantes brancos, homens e de classe média ou alta, sugerindo a necessidade de pesquisas mais diversas para confirmar esses achados.
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