Quem diria que um especialista em tecnologia de informação se tornaria um chef nada tradicional? Essa é a história de Davi Laranjeira, hoje empreendedor, consultor gastronômico e professor que ganha a vida fazendo tudo isso, além do conteúdo digital sobre cozinhar de verdade que ganhou espaço nas redes e gera polêmica diariamente. Foi em uma dessas andanças que conheci o trabalho dele e me rendi aos cursos e, claro, resolvi trazer algumas informações para a coluna porque, de fato, me assustei com revelações que soube e conheci (de verdade). “Um dos absurdos que temos é a questão do café, porque o café tradicional e extraforte que nós consumimos a vida inteira pode ter pau, pedra, cascalho, sedimentos e outros detritos, acredita? O café é dividido em quatro categorias, sendo que as melhores são a especial e gourmet. Eu ensino as pessoas a lerem os rótulos para saberem exatamente o que estão consumindo e isso gera uma reeducação, não só alimentar como de vida, sem falar na saúde. Por isso, muita gente diz que não toma café por má digestão ou náusea, mas, na maioria dos casos, não está realmente tomando café de verdade. Indústrias moem e trituram outros itens além do café para entregar o produto final ao consumidor. Quer se dar bem? Leia o rótulo com atenção”, explica.
Outro post que causou até revolta foi um relacionado a carnes em que o chef informa que grandes frigoríficos estão injetando água e colágeno nas peças que consumimos. “Só olhar o rótulo para ver que está escrito lá aditivos, ou seja, uma carne que era para ser in natura, apenas a proteína de origem animal, se tornou praticamente um ultraprocessado, já que tem conservantes: tem água e colágeno. Sim, eles injetam água para pesar mais e colágeno para manter aquilo por muito tempo, e nós pagamos pelo peso, ou seja, não estamos consumindo carne pura e saudável”, revela Laranjeira.
O amor pelos alimentos nasceu na infância, quando, ainda menino e morador da baixada santista, ele ajudava na cozinha. Daí a curiosidade em saber do que tudo era feito, com o raciocínio lógico de alguém que se formou em exatas, fez com que ele enveredasse para essa área de ensino. Hoje, Laranjeira ministra cursos presenciais e online ensinando as pessoas a cozinhar de maneira correta e a fugir de armadilhas no supermercado. E as revelações vão além da refeição principal. Por exemplo, você sabia que tem bombom que é, na verdade, waffer, para mascarar a gordura hidrogenada (ou seja, ali não tem quase chocolate de verdade?). “Ao ler o rótulo, você vê que está escrito waffer e, pela regulamentação, pode ter cobertura sabor chocolate, que é pura gordura hidrogenada com açúcares e que não é chocolate. Por isso fica aquele sabor rançoso na boca. Aliás, continuando na categoria doces, a maioria dos sorvetes que você toma e adora (inclusive casquinhas famosas no mundo todo) não são sorvetes, são pura química. Pronto, falei”, brinca, dizendo a verdade.
Por orientar as pessoas, Davi Laranjeira já foi ameaçado por grandes marcas, ou seja, incomoda muita gente. “O que eu falo é bem polêmico e abre os olhos das pessoas para o que elas estão consumindo. Faço isso para entenderem que é preciso haver equilíbrio em tudo na vida e que não é para consumir tudo em excesso. Já fui ameaçado, mas nunca processado porque o que falo tem propriedade, está nos rótulos dos alimentos, tem alicerce. Eu apenas relato o que está ali na embalagem, dando as justificativas, buscando as normas e as leis dos órgãos regulamentadores. Nunca cheguei a deletar um vídeo, e olha que já mostrei coisas graves, como o requeijão que não é requeijão, a manteiga de mentira ou até o leite condensado falso. Com a experiência., já editei vídeos apenas corrigindo palavras, porque ali mostro a minha opinião e conhecimento, no intuito de informar as pessoas mesmo, não para prejudicar ninguém”, desabafa.
Para ele, o que mais choca as pessoas é descobrir mentiras que aprenderam com a avó, a mãe, o tio, cozinhando em casa, com truques caseiros, lendas. Isso, sim, mexe com o emocional das pessoas. “Não é porque a mãe, tia ou avó ensinaram errado, não. É porque o mundo evoluiu, é porque você pode, sim, cozinhar com azeite, por exemplo, e por aí vai. O fato de ensinar o correto não desmerece a memória afetiva do alimento, pelo contrário, eu ensino a retirar o máximo de proveito e nutrientes daquilo. É que as pessoas muitas vezes não querem sair da linha de conforto. Eu, por exemplo, ensino a temperar o feijão antes de cozinhar, para que o grão absorva aquilo, e tem gente que não aceita isso. Ensino o motivo e mostro o porquê daquilo, se a pessoa vai absorver e aplicar isso no dia a dia, não sei, cabe a ela e está tudo bem.” Pois é, o pouco que vi dos vídeos e uma parte do curso mexeu comigo, por isso trouxe aqui o assunto na coluna, com o intuito de ajudar, repercutir e reverberar. Como sou a eterna curiosa de plantão (até por conta da minha profissão), gosto de botar na roda, discutir e avaliar. E aí, me conta o que achou?