“Talvez se discuta a Crimeia”, diz Lula, engajado em um suposto plano de paz entre Rússia e Ucrânia. “Respeito e ordem retornarão apenas quando a bandeira ucraniana retornar à Crimeia”, rebate Volodymyr Zelensky. A imprensa pondera, relativiza os crimes de guerra e tende a dar razão ao ex-sindicalista, mesmo com seu histórico de fracassos em negociações internacionais, como nas mesas de paz da Colômbia, na crise nuclear do Irã e no histórico conflito israelo-palestino. O petista fracassa, pois lhe falta a independência necessária a qualquer negociador. No passado, ficou do lado das Farc, de Mahmoud Ahmadinejad e de Mahmoud Abbas. Agora, está do lado de Vladimir Putin.
Oferecer o reconhecimento da Crimeia — ocupada em 2014 — como território russo é sucumbir ao plano expansionista de Moscou e ignorar resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU. Putin já avisou que só suspenderá a ofensiva militar se puder ficar, não só com a Crimeia, mas com a região do Donbass, tomada em 2022. Como em qualquer negociação, ele pede mais do que realmente quer. Dessa maneira, Lula atua como um agente russo e não como um interlocutor neutro, da mesma forma como negociava greves para Emílio Odebrecht, segundo contou o delator à Lava Jato. Resta saber o preço que está sendo cobrado pelo petista.
Legitimar uma anexação territorial forçada é bem mais grave do que iludir trabalhadores, diga-se. Além de violar a Carta das Nações Unidas, reabre questões fronteiriças no mundo todo, gerando um clima de instabilidade no sistema de governança internacional. A invasão russa já deixou mais de 300 mil mortos, sendo mais de 30 mil civis ucranianos, inclusive crianças — milhares delas foram violadas ou sequestradas e entregues a famílias russas. Dez milhões de pessoas foram obrigadas a deixar o país, que registra danos econômicos superiores a US$ 600 bilhões.
Putin deseja vir ao Brasil em junho, enquanto seu chanceler Serguei Lavrov desembarca no proximo dia 17. Lula deve ir a Kiev em maio. Conversas sobre paz são mera fachada para um alinhamento geopolítico que vem sendo costurado globalmente pela China, onde Lula estará na próxima semana. Ela envolve a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao Swift, para livrar países párias de sanções econômicas; além de uma aliança militar anti-Otan, entre outras balizas estratégicas para o que o PT chama de nova ordem mundial – dentro desse contexto estão o Brics ampliado (com a possível entrada do Irã e da Arábia Saudita) e uma Unasul rediviva, grupos majoritariamente formados por regimes autocráticos e ditaduras eleitorais.
É uma turma que despreza profundamente os valores ocidentais que forjaram nossa história e cultura. Lula, Celso Amorim e os petistas detestam os Estados Unidos e odeiam ainda mais o Brasil.