Ganhar uma renda extra apenas curtindo postagens em redes sociais ou avaliando produtos. Parece algo simples e extremamente lucrativo, mas virou uma tremenda dor de cabeça para muitos internautas. O golpe da “renda extra” se popularizou nas redes sociais e ganhou impulsão graças a influenciadores. Algumas plataformas prometem ganhos que ultrapassam os R$ 300 por dia e contam com a ajuda de personalidades da mídia para atestar credibilidade. No entanto, de acordo com seguidores que se sentiram lesados, o método traz vantagens apenas para os golpistas. Uma taxa inicial é cobrada para os interessados e o retorno prometido dificilmente é alcançado.
Durante entrevista ao programa Morning Show, da Jovem Pan, da última quarta-feira, 12, o criador de conteúdo Guga Figueiredo falou sobre a onda de golpes que estariam sendo divulgados por grandes influenciadores. “O primeiro ponto é que os golpistas criam aplicativos que seduzem os consumidores, dizendo que eles vão ganhar dinheiro fácil. Apenas com o celular na mão ele vai fazer dinheiro curtindo fotos no Instagram, ouvindo música, vendo YouTube e Netflix, avaliando roupa da Shein. Como funciona o golpe: esses aplicativos são pagos, mas ninguém vai comprar sem ter alguém para divulgar.
Aí que entra o papel dos influenciadores, é o poder do convencimento, de convencer o seguidor a cair naquele golpe”, explica Guga, que continua. “Os influenciadores fingem que estão sacando dinheiro da plataforma, que estão ganhando dinheiro ouvindo música e avaliando roupa da Shein. Eles abrem e mostram que há dinheiro na conta do aplicativo. Isso para quê? Para enganar e persuadir o seguidor a comprar o aplicativo, paga em torno de R$ 97, e os golpistas prendem a pessoa na plataforma por sete dias, tempo que o consumidor teria para pedir reembolso. […] Passando os sete dias, o consumidor não consegue pedir reembolso e fica no prejuízo”.
Questionado pelos participantes do programa, Guga citou alguns nomes que estariam ligados à divulgação de golpes: as influenciadoras Bia Miranda e Emily Garcia e a cantora sertaneja Gabi Martins, classificada por ele como uma “das maiores divulgadoras desses aplicativos do Brasil”. No portal Reclame Aqui, que registra queixas de consumidores sobre empresas, o nome das três citadas por Guga aparece em reclamações do gênero. Na maioria dos casos, consumidores dizem que compraram os produtos após verem publicidades nos perfis das influenciadoras e não conseguido acessar ou sacar nenhum valor. Os principais aplicativos citados são o InstaMoney e o Money Looks. Guga também disse querer acreditar que os influenciadores não sabem que estão divulgando golpes, mas ressalta: “Tem um fato incontestável. Se a pessoa não sabe que está divulgando um golpe, porque ela está fingindo que está sacando dinheiro da plataforma?”. O site da Jovem Pan procurou as equipes das três artistas, mas, até o momento, não obteve retorno. O Money Looks afirma que não tem parceria com os influencers e que não oferece metas a serem batidas no aplicativo. “Sempre alertamos sobre golpes, não temos culpa se outros os aplicam.” O perfil que se apresenta como InstaMoney no Instagram não respondeu aos pedidos da reportagem.
Uma vítima, que preferiu não se identificada, conta que presenciou diversas pessoas divulgando um aplicativo onde o interessado ganhava renda curtindo fotos, chamado InstaMoney. Ela leu a proposta e, quando concordou com os termos, um site de uma plataforma chamada Braip abriu automaticamente, exibindo preços e questionando se o interessado queria incluir um material para turbinar os ganhos. Ela não concordou, queria apenas o aplicativo. Mas, em seguida, ao aceitar, um valor foi debitado do seu cartão. “Percebi que incluíram juros. Chegou um e-mail com o acesso ao aplicativo somente e não veio nota fiscal da compra”, revelou. Ela acessou o aplicativo e viu que o usuário pode curtir um número limitado de fotos por dia, com ganho de R$ 1 a cada curtida. Segundo relato da vítima, o aplicativo não computava algumas curtidas e só liberava saque de R$ 250. “Demoraria [para conseguir um valor alto], considerando que o limite de foto diária era pouco e o aplicativo ainda me sabotava”, disse. A empresa não respondia aos e-mails sobre a nota fiscal do produto, por isso ela resolveu procurar seu banco, que explicou sobre o processo de disputa. Ela insistiu e entrou novamente em contato com a empresa, exigindo o reembolso. “A política da empresa falava que se a loja que me vendeu, se não respondesse em cinco dias úteis, automaticamente cancelaria a compra”. Depois do susto, a própria empresa estornou o valor. “Fique bastante preocupada.”
Indignada com a publicidade que tomou conta das redes socias, a cantora e vencedora do Big Brother Brasil 21, Juliette Freire, alertou seus seguidores sobre esse tipo de golpe. “Seguinte: vocês se lembram que, um tempo atrás, alertei aqui para ter cuidado com essas propagandas que colocam a minha imagem dizendo que estou estimulando a compra de jogos ou de uma forma fácil de ganhar dinheiro, esse tipo de mídia? Falei para vocês terem cuidado que não é verdade. […] Tenham muito cuidado, muito cuidado de que forma vocês estão sendo influenciados. Não existe fórmula mágica, minha gente, não existe nada fácil. Estou protegendo os meus e vocês são os meus. Não acreditem, desconfiem tanto dessas propostas mirabolantes, de produtos com promessas mirabolantes e de pessoas que fazem isso”, disse Juliette. A influenciadora Deolane Bezerra se sentiu atingida e, sem citar Juliette, respondeu. “Essa semana surgiram aí alguns comentários de grandes artistas renomados no Brasil, metendo o pau nos influenciadores e eu gostaria de falar para vocês uma coisa: não generalizem, está bom? Quando eles falam: ‘Pestem atenção em quem vocês seguem, em quem influencia vocês…’ Realmente, prestem bem atenção”, declarou. Apesar da declaração, a viúva de MC Kevin não é citada em reclamações sobre aplicativos que prometem renda extra.
Em entrevista ao portal da Jovem Pan, Renata Aidar Garcia Braga Netto, advogada especialista em direito civil e imobiliário e sócia do escritório Guarnera Advogados, falou sobre o tema, dizendo que os influenciadores, à ótica do direito do consumidor, podem ser equiparados ao fornecedor do produto e, por isso, serem responsabilizados. “Os influenciadores digitais usam sua imagem e credibilidade, na maioria das vezes de forma monetizada, para influenciar seus seguidores a adquirir um produto ou usar um serviço. Portanto, a responsabilização pelos danos causados ao consumidor, em razão de divulgações feitas em suas redes sociais e golpes, pode, sim, ocorrer, e de forma objetiva, principalmente quando se trata de uma atividade publicitária e remunerada que causou um dano efetivo ao consumidor”, disse Braga Netto. A advogada também destacou ser importante que os influenciadores estejam atentos aos produtos e serviços que representam e divulgam. “A legislação consumerista é rigorosa quando envolve propaganda enganosa, golpe e fraude contra consumidores”. Caso sejam condenados, os influencers podem acionar os autores do golpe na Justiça por uso da imagem para divulgação.
Renata Braga Netto alerta que, caso o consumidor caia em algum golpe, precisará tomar algumas medidas imediatamente, sendo a primeira realizar um Boletim de Ocorrência com comprovantes do crime. Caso dados de cartões tenham sido fornecidos ou estejam em risco, é necessário contatar a operadora e o banco para realizar o bloqueio. Senhas possivelmente comprometidas também devem ser expostas. “O consumidor, vítima desses golpes, pode-se valer do Judiciário para pleitear do fornecedor a reparação dos danos que lhe foram causados, com base tanto na legislação civil como no Código de Defesa do Consumidor”, explica a advogada.
A legislação, salienta a especialista, não acompanhou os avanços tecnológicos e por isso requer mudanças. Mas, até lá, os consumidores devem ficar atentos e desconfiar de situações suspeitas. “Seguramente a mudança e adequação da legislação são fundamentais para proteção dos consumidores e até mesmo inibição desses crimes. Até que isso aconteça, cabe aos consumidores o máximo de atenção e cuidado. Fiquem sempre atentos a ofertas mirabolantes, com promessas de lucros altos e ganho fácil. Não forneçam informações pessoais a sites que não sabem a procedência. Não informem dados de contato e, principalmente, informações bancárias e dados do seu cartão de crédito a terceiros”, alertou.