A surreal fala de Lula, ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, quando nosso presidente agradeceu "por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão" é a prova de que, no Brasil, não importa o que se fala ? o conteúdo ?, mas tão somente quem fala ? isto é, o emissor e sua licença ideológica para absurdos.
A surreal fala de Lula, ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, quando nosso presidente agradeceu "por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão" é a prova de que, no Brasil, não importa o que se fala ‒ o conteúdo ‒, mas tão somente quem fala ‒ isto é, o emissor e sua licença ideológica para absurdos. Alguém consegue imaginar o que teria ocorrido se essa frase tivesse sido proferida por Bolsonaro? Eu respondo: impeachment, ou, no mínimo, protestos como os do Black Lives Matter nos Estados Unidos. A frase, todavia, foi solenemente ignorada pelo movimento negro nacional, provando assim, mais uma vez, o ponto do filósofo e economista negro, Thomas Sowell, de que o atual movimento negro está mais para lacaio de comunista branco do que ativista antirracismo.
O desafio da semana foi encontrar uma só instituição de defesa das causas negras condenando a fala bizarra do presidente Lula. Vamos lá, comecem por aqueles que o apoiaram ou, hoje, fazem parte do dito "conselhão" da presidência da República. Acessem as redes da "Frente parlamentar antirracista" ou tentem encontrar qualquer fala da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Por obviedade, tais grupos e pessoas que sempre estão encontrando "racismos estruturais" e "ameaças fascistas" para tudo quanto é lado no Brasil, não demorariam para condenar uma fala tão abjeta como a de Lula, não é mesmo? Todavia, sabe o que encontrarão ao final da busca(?), o silêncio sepulcral da servidão política esquerdista, o cabresto de ocasião, a gargalheira da submissão ideológica.
Em todo caso, esse fato é importante para notarmos o óbvio, o dito movimento negro, ou antirracista, é quase todo dirigido por socialistas que, na necessidade mais rasa do cotidiano, colocam a causa política e ideológica acima da defesa e dos interesses da classe que supostamente defendem; mostrando, assim, quem manda e quais são os reais valores que sustentam ‒ para além do discurso engajado de rede social, é claro. No livro A guerra contra o Ocidente, de Douglas Murray, logo no capítulo 1, o autor mostra-nos que o movimento negro clássico, de garantias e de busca por igualdade, representado especialmente pelo pastor Martin Luther King Jr., nas décadas de 1950 e 1960, nada tem a ver com os atuais movimentos antirracistas. Algo que é largamente aprofundado no recente livro do supracitado Thomas Sowell, Social Justice Fallacies, vale a pena ler.
Hoje temos, na verdade, sindicatos ideológicos socialistas que rezam cartilhas internacionais, usando do espaço do debate público sobre o racismo para pregarem seu catecismo político que pouco ‒ ou nada ‒ tem a ver com igualdades e direitos fundamentais, mas sim com imposições autoritárias e proteção de discurso à esquerda.
Num suposto país sadio, onde o mainstream, a academia e a sociedade civil conseguissem compreender as hipocrisias políticas desse esquerdismo pateta encarnado pelo petismo, não restaria espaço para as retóricas toscas e mentirosas de ideólogos e demais encantadores de massas. Hoje, jornalistas, intelectuais e os ditos "especialistas" estariam rechaçando publicamente a fala de nosso presidente, e, se coerência fosse o forte desses movimentos negros, estariam todos nas ruas utilizando os mesmos pesos, medidas e atos para pressionarem o governo petista por uma fala tão abjeta. Mas, repito, como já era de se esperar, os negros militantes e os demais adeptos do movimento se encontram sob seus edredons de hipocrisia, buscando entre uma teta e outra algumas migalhas de projeção política, molho financeiro ou, quiçá, quirera de apadrinhamento.
A escravidão ocorrida aqui, nos séculos passados, trata-se de uma das máculas mais vergonhosas e doloridas de nosso país, e não é preciso ser negro ou militante para entender isso. Entretanto, transformar grupos de negros ativistas em engrenagens de maquinário governamental, em criados-mudos de uma ideologia que pede obediência irrestrita, isso também é uma forma de escravidão ‒ psicológica, política.
O silêncio dos representantes da causa negra após a fala de Lula é antes um grito estridente de submissão, tão barulhento e vergonhoso que, poucas vezes, nos últimos tempos, se fez tão visível e/ou audível o quanto a esquerda necessita da hipocrisia e da retórica da sujeição para continuar sua indústria de absurdos, soterrados e justificados pela sempre inconteste vassalagem de nossos críticos supostamente esclarecidos.