O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou neste sábado que os países muçulmanos devem armar os palestinos em Gaza e apelou à imposição de um boicote econômico e energético a Israel.
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou neste sábado que os países muçulmanos devem armar os palestinos em Gaza e apelou à imposição de um boicote econômico e energético a Israel.
"Os países muçulmanos devem armar os palestinos se os ataques contra o povo de Gaza continuarem", disse Raisi em discurso na cúpula árabe-islâmica realizada em Riade, com a participação de dezenas de chefes de Estado árabes e muçulmanos.
O presidente iraniano também apelou à imposição de um boicote econômico e energético contra Israel pelos bombardeios contra Gaza. "O comércio e a cooperação com o regime sionista devem ser paralisados e os produtos israelenses devem ser embargados", disse o político iraniano, que descreveu como uma "vergonha" que alguns países islâmicos forneçam petróleo a Israel.
Raisi juntou-se a outros líderes muçulmanos no apelo a um cessar-fogo e à permissão da ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Afirmou também que as forças israelenses devem abandonar Gaza, serem classificadas como "terroristas" e os "criminosos de guerra" devem ser julgados em tribunais internacionais. Como "solução sustentável" para o conflito israelo-palestino, Raisí propôs o estabelecimento de um Estado Palestino "do rio (Jordânia) ao mar (Mediterrâneo), o que significaria o desaparecimento do Estado de Israel.
E mais uma vez ele mostrou seu apoio aos palestinos que lutam contra os israelenses, que ele descreveu como "um movimento de libertação". "Beijamos a mão e o braço do heróico Hamas e saudamos a vontade de ferro do povo resistente de Gaza", disse Raisi.
Teerão comemorou o ataque de seu aliado Hamas contra Israel em 7 de outubro e, desde então, tem alertado repetidamente para a possibilidade de seus aliados abrirem outras frentes se não impedirem os bombardeios de Gaza, nos quais morreram mais de 11.000 palestinos.
Este apoio do Irã ao Hamas faz parte de uma longa história de apoio aos movimentos e grupos anti-israelenses na região e do compromisso iraniano com a causa palestina, explica a revista Foreign Affairs em um artigo que analisa os objetivos imediatos do regime persa nesse conflito. Esta relação tem sido mantida apesar das diferenças ideológicas e sectárias entre o Irã, um país xiita, e grupos sunitas como o Hamas, algo que permitiu a Teerã alargar sua influência na região e fortalecer sua posição na luta contra Israel.
De acordo com a análise de Mohammad Ayatollahi Tabaar, um dos principais especialistas em questões iranianas da Harvard Kennedy School, nos EUA, um dos principais objetivos do regime persa é fortalecer o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, outro grupo terrorista apoiado por Teerã. O Irã procura que esses grupos inflijam danos significativos a Israel e impeçam sua vitória em Gaza, dissuadindo assim as Forças de Defesa de Israel (IDF) de futuros ataques massivos aos territórios palestinos.
O Irã também espera que um grupo militante vitorioso do Hamas possa chegar ao poder na Cisjordânia, o que serviria para dissuadir os colonos israelenses naquela área. Mesmo que não consigam assumir o controle de outros territórios palestinos, uma vitória em Gaza permitiria ao Hamas e à Jihad Islâmica Palestina expandir sua influência para além de Gaza, ganhando popularidade na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, segundo Tabaar.
Em suma, o conflito em Gaza é apresentado como uma oportunidade para o Irã num momento em que procura fortalecer sua posição no Oriente Médio. O regime persa, explica Tabaar, vê a solidariedade suscitada pela causa palestina como uma forma de reivindicar liderança moral e destacar-se num mundo que, na sua percepção, se está a afastar do Ocidente.