A Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, nesta terça-feira (12), projeto de lei que cria um incentivo financeiro para alunos de baixa renda do ensino médio se manterem na escola e concluírem o ensino básico.
A Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, nesta terça-feira (12), projeto de lei que cria um incentivo financeiro para alunos de baixa renda do ensino médio se manterem na escola e concluĂrem o ensino bĂĄsico.
O texto cria um fundo com aporte de até R$ 20 bilhões que poderĂĄ ser feito pela União para cobrir as despesas. A proposta agora segue para anĂĄlise do Senado.
O texto prevĂȘ o pagamento de dois tipos de auxĂlio, com valores ainda a serem definidos. O primeiro auxĂlio serĂĄ pago mensalmente, ao menos por nove meses ao ano, e poderĂĄ ser sacado a qualquer momento. A proposta prevĂȘ ainda um pagamento anual ao final da conclusão de cada ano letivo, mas o saque, nesse caso, só poderĂĄ ser feito após a conclusão de todo o ensino médio.
O aluno ainda deverĂĄ ter uma frequĂȘncia escolar de 80% dos dias letivos, devendo aumentar para 85% de presença na sala de aula em até trĂȘs anos após o inĂcio do programa, sendo essa frequĂȘncia superior aos 75% hoje exigidos para aprovação escolar.
O benefĂcio poderĂĄ ser pago aos estudantes regularmente matriculados no ensino médio das redes pĂșblicas e que sejam de famĂlias inscritas no Cadastro Ănico (CadĂnico) dos programas do governo federal, com prioridade para aqueles alunos de famĂlias com renda per capita mensal de até R$ 218. O incentivo também poderĂĄ ser pago aos estudantes da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas somente se tiverem entre 19 e 24 anos.
A seleção dos alunos deve obedecer aos critérios de inscrição do CadĂnico e poderĂĄ ter outros critérios fixados em regulamento do Executivo baseados em vulnerabilidade social, idade do estudante e modalidade de ensino. A relação dos estudantes beneficiados deverĂĄ ainda ser disponibilizada na internet com acesso pĂșblico.
O valor do auxĂlio deve ser definido periodicamente pelo Executivo federal por meio de regulamento "em decorrĂȘncia da dinâmica socioeconômica do paĂs e de estudos técnicos sobre o tema". Porém, ao analisar o projeto, o governo estimou que seria possĂvel pagar aproximadamente R$ 200 mensais, iniciados quando a matrĂcula for efetivada. Em relação ao aporte anual, a previsão é de um pagamento de R$ 1 mil ao final da conclusão de cada ano, "reiterando que estes Ășltimos somente poderão ser resgatados após a obtenção do certificado de conclusão do ensino médio".
O projeto de lei definiu ainda que esse auxĂlio não pode ser contabilizado no cĂĄlculo da renda da famĂlia usado para obtenção de outros benefĂcios assistenciais, mas não poderĂĄ ser acumulado com o BenefĂcio de Prestação Continuada (BPC) ou com Bolsa FamĂlia no caso de famĂlias unipessoais.
O relator do projeto na Câmara, o deputado Federal Pedro Uczai (PT-SC), aproveitou no texto a maior parte da Medida Provisória 1.198, editada pelo governo federal no final de novembro e que instituiu poupança para incentivar a permanĂȘncia e conclusão escolar para estudantes do ensino médio.
"O aumento de gastos promovido por essa polĂtica pĂșblica se reverterĂĄ em benefĂcios inequĂvocos para as polĂticas educacionais, com redução da evasão escolar e ampliação da escolaridade da população em geral", argumentou Uczai.
O parlamentar defendeu a aprovação do projeto devido aos nĂșmeros do Ministério da Educação (MEC) sobre evasão, reprovação e distorção entre idade e série no Ensino Médio brasileiro. Segundo o Censo Escolar de 2019 a 2022, a evasão escolar foi, em média, de 8,8% no 1Âș ano do Ensino Médio, de 8,3% no 2Âș ano e de 4,6% no 3Âș ano da Ășltima etapa da educação bĂĄsica.
O projeto é de autoria da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) que, durante a sessão, destacou que o aluno não deve abandonar os estudos por precisar levar comida para dentro de casa.
"Quando fazemos uma polĂtica pĂșblica para dizer que nenhum aluno vai ter que escolher entre o prato de comida, entre levar dinheiro para casa e terminar os seus estudos, essa é a melhor aposta que podemos fazer, essa é a sinalização mais forte de que, de fato, acreditamos que vale a pena investir em educação, acreditamos que vale a pena investir nesses jovens", destacou.
Os recursos que a União usarĂĄ para bancar essa polĂtica virão dos superĂĄvits financeiros do Fundo Social (FS). Criado para receber recursos do governo federal com exploração do petróleo do pré-sal, esse fundo prevĂȘ o financiamento de ações em outras ĂĄreas, como saĂșde pĂșblica, ciĂȘncia e tecnologia, meio ambiente e mitigação e adaptação às mudanças climĂĄticas.
O relatório do deputado Pedro Uczai determina que o projeto autoriza o uso de recursos do Fundo Social, que somam R$ 18,7 bilhões, que representa o total de superĂĄvit apurado entre 2018 e 2022, segundo cĂĄlculos da Secretaria do Tesouro Nacional.