Diante da urgência em combater as mudanças climáticas, é necessário avaliar todas as possibilidades de atuação nesse sentido — desde as mudanças em simples hábitos de consumo, passando por medidas políticas e sociais e ainda as atitudes por parte das grandes empresas. Um dos principais vilões do meio ambiente é a emissão de gases do efeito estufa — e é a partir daí que as transformações devem começar. As grandes cidades ao redor do mundo já têm apostado nos biocombustíveis como substitutos aos combustíveis fósseis. Os biocombustíveis são fontes de energia renovável e apresentam baixos índices de emissão de poluentes para a atmosfera. Em geral, essas fontes de energia costumam ser produzidas a partir de produtos agrícolas ou vegetais — como cana-de-açúcar, milho e mamona, entre outras matérias-primas. Os biocombustíveis podem ser utilizados tanto para a locomoção de veículos quanto para a geração de energia. Apesar de serem adotados muitas vezes para resolver questões econômicas, eles são importantes alternativas ecológicas para combater essas emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa — especialmente o CO².
Alcides Torres, engenheiro agrônomo e diretor-proprietário e analista de mercado da Scot Consultoria, explica: “A opção pelos biocombustíveis atende a algumas demandas, entre elas a de diminuir a dependência de combustíveis fósseis. O uso de etanol anidro e hidratado foi uma resposta à crise de petróleo vivida na década de 70, por exemplo. O uso de etanol diminui também a poluição, sentida principalmente em grandes centros urbanos, tornando o ar mais respirável e, em certa medida, amenizando as mudanças climáticas desenhadas para o presente e para o futuro”.
O especialista prossegue: “A diminuição da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, consequentemente, dos problemas ambientais daí advindos, justifica o uso de biodiesel, originado principalmente da soja e da bovinocultura de corte. Como o nome diz, recursos renováveis podem se renovar e seguirem sendo utilizados, enquanto os combustíveis fósseis são finitos. A opção racional da sustentabilidade econômica do comércio global passa pelos biocombustíveis. E, por fim, os biocombustíveis de origem animal e vegetal ainda fortalecem o campo e o meio rural, levando progresso para o interior e fixando o homem no campo”.
Os biocombustíveis utilizados no Brasil são três: biodiesel, bioetanol e biogás. O biodiesel é um combustível derivado de óleos e gorduras, de fonte vegetal ou animal, que passa por processos químicos para sua transformação e é adicionado ao diesel em uma mistura de 10% e 90%, respectivamente. Já o bioetanol é produzido por meio da biomassa de resíduos vegetais, e as principais culturas utilizadas no Brasil neste segmento são a cana-de-açúcar e o milho, sendo o etanol um combustível que compete com a gasolina. O biogás, por sua vez, é produzido a partir da degradação anaeróbica da biomassa (como a vinhaça e dejetos animais) e é composto por gases, como o metano (CH4), utilizado na produção de energia.
O Brasil tem grande vocação para a produção de combustíveis verdes, desde o etanol até o biodiesel proveniente de plantas oleaginosas, como a palma. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), elaborado em 2004, busca potencializar esse mercado e estimular a inclusão social em sua cadeia de produção. A introdução do biodiesel na matriz energética brasileira se deu em 2005 e, após uma década, o mercado brasileiro já era o segundo maior do mundo.
A Lei nº 13.576, de 26 de dezembro de 2017, instituiu a Política Nacional de Bicombustíveis (RenovaBio) visando ampliar a produção e o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira. A política de Estado leva em consideração a relação entre a eficiência energética e a redução das emissões de gases de efeito estufa, visando, assim, auxiliar na descarbonização da matriz de transportes brasileira, contribuindo ainda para a segurança energética e a previsibilidade do mercado. Os principais instrumentos para a concretização da política podem ser resumidos em três eixos estratégicos: a definição das metas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), a certificação da produção de biocombustíveis e o Crédito de Descarbonização (CBIO).
“O principal desafio para a completa implementação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira é a dependência dos combustíveis de origem fóssil (derivados de petróleo), como a gasolina, o diesel e o gás natural”, pontua Torres. “No entanto, essa dependência é maior no mundo do que no Brasil, já que, no país, a diversidade energética é grande e os biocombustíveis têm participação crescente na matriz energética”, ressalta.
Para ele, uma completa implementação global dos biocombustíveis é difícil. “A complementaridade é possível, porém trata-se de um processo demorado por conta de fatores econômicos, uma vez que o mercado dos combustíveis derivados do petróleo traz um bom retorno financeiro e a cadeia de produção gera milhares de empregos no Brasil e no mundo”, cita o engenheiro. “Outro fator que dificulta a substituição energética total pelos biocombustíveis é o fato de que a biomassa necessária não está igualmente disponível pelo planeta, sendo para alguns países mais difícil do que para outros investir nessa produção”, conclui.
Em significativa parte da região Norte do Brasil, o biodiesel feito a partir do óleo de palma é utilizado como combustível verde para geração de energia e também comercializado como uma opção sustentável para o abastecimento de caminhões e equipamentos. Tudo isso graças ao trabalho da Brasil BioFuels (BBF), que desde 2009 produz biodiesel em sua unidade de Ji-Paraná, em Rondônia. São mais de 32 milhões de litros produzidos anualmente, em um processo que conta com a certificação RenovaBio — emitido pela ANP, órgão que regula o setor — e o selo Biocombustível Social — emitido pelo MAPA, pela inclusão e geração de renda aos Agricultores Familiares.
A BBF é uma empresa brasileira que atua no agronegócio desde o cultivo, trading, produção de biocombustíveis e geração de energia renovável. O trabalho, que segue um modelo verticalizado, começa no cultivo da palma, passa pela comercialização e por essa produção de biocombustíveis e chega na geração de energia renovável. Desde 2008, ano de sua fundação, a BBF assumiu a missão de mudar a matriz energética dos Sistemas Isolados do Norte do Brasil, empregando a população local — são mais de 6 mil empregos diretos e 18 mil indiretos —, gerando renda e ainda reduzindo o custo da eletricidade para os nortistas. Essa mudança de matriz consiste na substituição do óleo diesel fóssil por biodiesel feito a partir do óleo de palma. Hoje, a empresa é a maior produtora de óleo de palma da América Latina e segue caminhando no sentido de contribuir para a transição energética do país e produzindo este combustível renovável para outras finalidades. O Grupo se divide em três diferentes verticais de atuação: BBF Agro, BBF Biocombustíveis e BBF Energia, de forma a estar presente em toda a cadeia produtiva e, assim, garantir a eficiência das soluções propostas e os produtos comercializados.
O biodiesel de óleo de palma contribui com a descarbonização e a melhoria da qualidade de vida na região Norte do país, oferecendo uma alternativa sustentável ao diesel S500 — combustível fóssil altamente poluente e ainda bastante utilizado na geração de eletricidade nas localidades isoladas da Amazônia. “A Amazônia está intoxicada pela queima do diesel usado no transporte e na geração de energia elétrica para as comunidades isoladas. A missão da BBF é limpar o pulmão da Amazônia com energia limpa e renovável”, explica Milton Steagall, CEO do Grupo BBF. As usinas termelétricas da empresa, alimentadas com biodiesel de palma, são pioneiras na região.
Também na Zona Franca de Manaus, a BBF vai instalar uma biorrefinaria para produção de HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado – Hydrotreated Vegetable Oil), conhecido como diesel verde. A BBF e a Vibra Energia celebraram, em novembro de 2021, um contrato de compra e venda do diesel verde. O objetivo do projeto é seguir contribuindo para a descarbonização da economia e para o desenvolvimento da Região Amazônica. A mesma biorrefinaria será utilizada para produzir o combustível sustentável de aviação SAF (Sustainable Aviation Fuel), que pode ser utilizado em substituição ao combustível Jet A em todas as aeronaves, sem a necessidade de realizar o serviço de abastecimento de forma distinta. O biocombustível de aviação consegue reduzir em cerca de 80% o nível das emissões de CO² durante seu ciclo de vida, em até 90% a emissão de partículas (PM) e em até 100% a emissão do enxofre (SOX). A biorrefinaria receberá investimentos na ordem de R$ 2,2 bilhões e será a primeira do Brasil. Com início de operação previsto para 2025, produzirá mais de 500 milhões de litros dos combustíveis anualmente.