Segundo Suzicleia de Jesus, episódios de ataques e humilhações ocorreram mais de uma vez, dentro e fora da escola
A enfermeira Suzicleia Elizabete de Jesus, mãe de um menino de nove anos diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), fez um desabafo em suas redes sociais neste domingo (14), Dia das Mães, sobre o filho ser vítima de bullying e agressões em uma escola da rede municipal de ensino de Barra do Garças (a 511 km de Cuiabá).
"Nesse dia das mães, me encontro despedaçada, despedaçada por ver o sofrimento do meu filho autista, sofrimento por saber que ele só estava usando calças para esconder as marcas das agressões sofridas na escola", escreveu na publicação.
Segundo Suzicleia, os episódios de ataques e humilhações com xingamentos ocorreram mais de uma vez, dentro e fora das dependências do Centro Municipal de Educação Básica Francisco Antônio Marcucci. Ela também relatou que o filho não revidava por temer ficar sem amigos.
"O que me dói é que não foi a primeira vez, meu filho já foi trancado no banheiro, tentaram enfiar a cabeça dele em um vaso sanitário, foi arranhado em uma sessão de cinema que a escola promoveu, agredido duas vezes ao retornar da escola para casa. E o que mais me dói, é que mesmo diante as agressões, e ele não revidar (pois o papai do céu não gosta), ele só queria entender por que o amiguinho disse que não seria mais amigo dele", lamentou a enfermeira.
Ao Semana7, a mãe disse que, em quase um ano, foram inúmeras as vezes que procurou a escola religiosa, considerada referência na rede pública, para conversar com as irmãs sobre as agressões e sugerir estratégias que ajudassem o processo de aprendizagem do filho em sala de aula. Porém, a situação não foi resolvida.
"Houve momentos em que me falaram que uma sala tem 30 alunos, que ele é que deveria se adequar. Sempre que eu procuro a escola, saio de lá com posições de que algo deve estar acontecendo é em casa, que é porque ele estava indo sozinho e blá blá blá", lembrou a enfermeira.
"Outra situação que ocorreu foi que, meu filho é muito sensível, ele chora com muita facilidade. Para ele conseguir se desenvolver, ele precisa ouvir um 'não' de forma diferente. Isso está no laudo da neuropsicóloga sobre como essas situações devem ser tratadas. E eu entreguei para a escola uma cópia. Ele começava a copiar, entrava em desespero e chorava por não entender o que estava escrito. Uma das formas de ele se acalmar era entrar debaixo da mesa, abraçar as perninhas e chorar. Aí ele se acalmava, sentava e continuava a aula. Esse ano a professora proibiu, não o deixou ter essa válvula de escape de entrar debaixo da mesa e chorar. Eu fui na escola e disse que aquilo era desumano", concluiu.
Apesar de a unidade de ensino ter disponibilizado uma sala de recursos com psicopedagoga uma vez por semana, a mãe explicou que conforme o laudo psicológico da criança há o pedido para que essa dinâmica seja realizada cinco vezes por semana.
Por conta dos ataques, Suzicleia contou que o psicólogo do filho a alertou que a criança tem apresentado comportamento suicida e a aconselhou a matriculá-lo em outra instituição.
O desabafo de Suzicleia ganhou repercussão nesse domingo (14). Na publicação, outras mães de crianças autistas relatam dificuldades semelhantes em escolas da região e também manifestaram apoio.
A Associação Mundo Azul Araguaia (AMAA), associação de mães, pais e familiares de pessoas com autismo, manifestou repúdio aos fatos narrados por Suzicleia.
"A AMAA se coloca à disposição dessa família, pois sentimos e compreendemos sua dor. Em segundo lugar, informamos que serão tomadas providências para verificar se houve descaso e/ou negligência por parte dos responsáveis, a fim de que todos os envolvidos sejam identificados e respondam na medida de suas ações", diz trecho da nota divulgada neste domingo.
O outro lado
O secretário municipal de Educação, Sivirino Souza, informou ao Semana7 que uma equipe da Secretaria está nesse caso e o acompanha de perto desde o início da semana. Segundo ele, até o momento, não houve evidência de negligência da escola quanto aos fatos relatados, porém, o relato da mãe é grave e será apurado a fundo.
"Essa escola não tem, nunca teve relato de negligência ou qualquer outro tipo de descuido com seus alunos. Muito pelo contrário, como a mãe cita, 'é tida como referência', e realmente até onde se sabe, é. Inclusive mães com filhos com autismo vieram conversar em defesa da escola que os filhos delas são acolhidos e muito bem cuidados. Esse caso é muito sério e precisa ser apurado ambos os lados. E isso já estamos fazendo", disse o secretário.