Você já deve ter visto esta reação: "Ah, detesto política. Não venha com esse assunto chato, não. Os políticos são todos iguais". Será que essas pessoas estão certas em se esquivar de um tema que vai afetar diretamente a sua vida? Será que elas sabem que, se continuarem omissas, outros tomarão as decisões em seu lugar? Fique à vontade para discutir ideias. Analise os fatos, pois contra eles não há argumentos. Por outro lado, não brigue, não discuta a respeito de pessoas. Esse tipo de contenda não leva a lugar nenhum. É só perda de tempo, de energia e um caminho sem volta para criar inimizades e desafetos. Ou seja, eleja bem as discussões que vale a pena ter.
Até a chegada de Bolsonaro à Presidência, pouco se falava em política. Desde Itamar Franco até o impeachment de Dilma Rousseff, as disputas eram uma espécie de faz de conta. Ainda vejo a cena que me deixou perplexo. José Serra disputando em 2010 o Palácio do Planalto com Dilma Rousseff e elogiando Lula. Como assim, ele não era adversário do PT? E Alckmin, então, durante a campanha, esbravejando contra o líder petista com todos os impropérios, e agora, como vice, andando de mãos dadas com aquele que dizia ser seu adversário. Por isso, as pessoas preferiam discutir futebol e não se envolver nessas teatrais rinhas partidárias. Com a eleição de Bolsonaro, parte da população tomou consciência do que efetivamente significava ser oposição no país. Aí foi um alvoroço. Aqueles que viviam tranquilos, surfando em águas serenas, não gostaram de ver suas ideias confrontadas. E passaram a reclamar da presença de uma indigesta polarização. A oposição ao atual governo, que deveria ser o símbolo da tão almejada democracia, foi vista como um perigo para o processo democrático.
Muitos aliados do ex-presidente mostraram seu descontentamento e foram reprimidos. Perderam cargos e direitos políticos, foram demitidos de emissoras de rádio e televisão, desmonetizados em suas redes sociais e alguns até obrigados a se exilar. As pessoas vivem amedrontadas e evitam dar opinião, ainda que esse direito seja garantido pela Constituição. Até o próprio ex-presidente se tornou inelegível. Inegavelmente, o fato de as pessoas se rebelarem indignadas diante das críticas indica, mais que nunca, não estarem acostumadas a ser contestadas. Não havia opositores à ideologia ou preferência política. Não foram afetadas em suas posições nem com os rumorosos escândalos do Mensalão e do Petrolão. Mesmo diante de prisões e "provas sobradas", esses episódios passaram para elas como se nada houvesse ocorrido.
Os aliados de Bolsonaro ficam de olho nas acusações que fazem contra ele. De maneira geral, não tomam a iniciativa de condenar ou absolver seu líder. Aguardam que os fatos sejam apurados. Estão acostumados a acompanhar acusações que não se sustentam, como no caso da compra de leite condensado, dos depósitos feitos na conta da primeira-dama e de Viagra. Dias e dias com a imprensa falando a respeito desses temas, para depois cair no vazio.
Não é para ficar contra o governo apenas por ficar. Não, absolutamente. O que devemos desejar é o bem e a prosperidade do país. Se os planos da atual gestão forem para beneficiar o Brasil, não há motivo para contestá-los. Ao contrário, temos de aderir a eles para permitir que sejam implementados sem obstáculos. Todos seremos beneficiados com programas que visem o nosso crescimento e bem-estar. Por isso, temos, sim, de falar sobre política. Afinal, todas as decisões de quem está no poder nos afetam diretamente. Analise, por exemplo, o impacto de algumas delas em nossa vida. A volta da cobrança do imposto sindical, o aumento de impostos para fazer frente aos gastos incontroláveis, a ampliação do número de ministérios apenas para satisfazer a interesses político-partidários, a intenção de continuar emprestando dinheiro a países que já se mostraram maus pagadores, sendo que esses recursos fazem tanta falta ao nosso país, a liberação do uso de drogas.
Ora, se esses temas não forem debatidos à exaustão até que se apure quais os verdadeiros desejos da população, seremos obrigados a nos submeter às decisões daqueles que talvez não representem, de fato, a vontade e o sentimento do povo. Não devemos nos calar apenas porque alguns dizem que estão cansados de discutir política. Não querem debater por quê? Não deveriam ter, como todos nós devemos ter, interesse em ver desnudadas todas as decisões que afetam a nossa vida em sociedade? Sendo que algumas delas trarão consequências não apenas aos que vivem hoje, mas também às gerações que virão. São as pessoas, que terão sua existência organizada pelo que seja determinado agora. Como disse o Papa Bonifácio VIII: "Quem cala, parece consentir". Siga pelo Instagram: @polito.
Jovem pan